Taquara – Quanto mais as horas passam, mais aterrorizante se torna a investigação que fechou uma clínica clandestina de idosos no interior de Taquara, na localidade de Santa Cruz da Concórdia. Um total de 10 vítimas foram resgatadas nesta semana em situação desumana, passando fome, sede e vestindo roupas molhadas e sujas de urina e fezes.
Os relatos da rotina do lar são chocantes. Além das vítimas resgatadas, a Polícia Civil também suspeita de que o local possa ter sido utilizado como uma espécie de cemitério ilegal. Isso porque cinco idosos, conforme relatos, teriam morrido nos últimos 12 meses em decorrência dos maus-tratos. “Nosso objetivo com o cumprimento desse mandado é descartar a possibilidade de haver algum idoso enterrado aqui. No último ano, temos notícias de que houve cinco falecimentos. Temos a identificação dessas pessoas falecidas, mas não temos informação de sepultamento e enterro delas”, contou o delegado Valeriano Garcia Neto, que comanda a investigação.
Para o trabalho de buscas, a Polícia Civil contou com equipes dos bombeiros de Taquara e Gravataí, além de um cão farejador. Inicialmente, a varredura começou pelo pátio, onde foram feitas algumas escavações, e depois seguiu para dentro da residência onde funcionava o lar. Até o fechamento desta reportagem, o trabalho seguia em ritmo acelerado.
JUIZ NEGOU O PEDIDO DE PRISÃO PREVENTIVA DE DOIS INVESTIGADOS
Conforme apurado, a clínica estaria funcionando em Taquara há cerca de um ano. O proprietário da residência alugou o imóvel para dois homens, padrasto e enteado, moradores de Porto Alegre. O delegado conta que há um contrato com os nomes dos investigados. “Fizemos contato telefônico com os dois, ambos se negaram a comparecer no local e negaram qualquer tipo de envolvimento. Mas localizamos documentos desses indivíduos no interior da residência que corroboram com todo relato que foi feito para nós”, disse ele.
Com a negativa em prestar depoimento, Valeriano pediu a prisão preventiva deles, mas o pedido foi negado pelo juiz Rafael Silveira Peixoto. “Verifico haver prova inicial a respeito da materialidade delitiva, haja vista os documentos e vídeos acostados pela Polícia Civil, dando conta de localização irregular de pessoas na apontada clínica mantida pelos investigados. Ocorre que mesmo grave e absolutamente reprovável e repulsivo o fato em tese praticado, as circunstâncias de seu cometimento merecem maiores e aprofundados esclarecimentos, muito especialmente a respeito de qual delito (e com qual gravidade normativa, ainda não definida na investigação) foi efetivamente praticado pelos suspeitos”, definiu o magistrado no despachado na noite de terça-feira.
Na manhã desta quarta-feira (4), o Ministério Público informou que iria recorrer para tentar reverter a decisão.