Taquara é uma cidade colonizada por, em sua maioria, imigrantes alemães, que chegaram ao vale do Paranhana em meados do século XVI para construir uma vida. Eles adquiriram um pedaço de terra que na época fez parte da sesmaria – instituto que regularizava a distribuição de terra para a produção agrícola. Em 1846, o território foi vendido para José Tristão Monteiro e desde então, o processo de colonização alemã da cidade começou através da Colônia de Santa Maria do Mundo Novo.
Desde então, a economia do município girou em torno dos setores agrícola, comercial e industrial, tornando a cidade uma espécie de pólo regional, fundamental para o desenvolvimento de Parobé e Igrejinha.
Essa etapa de colonização iniciou, principalmente, por meio de famílias alemãs: Ritter, Lahm, Schirmer, Krummenauer, Schäfer, Klein, Lambert, Laux, Fischer, Petry, Korndörfer; a Polonesa Jocoboski; a italiana Raimondo e a espanhola Belmonte.
Além dessas que foram importantes no início desse processo, o Jornal Repercussão Paranhana conversou com representantes de três famílias que se tornaram essenciais para a cidade, seja para economia ou para ajudar a manter viva a história do município. Carlos Trott, Flávio Wischmann e Cláudio Corrêa da Silva contaram detalhes das histórias de suas famílias.
Família Trott
A história de seu Adelmo Trott retrata com orgulho o carinho de um morador por sua cidade natal.
Um dos três filhos de Adelmo Trott e o responsável por preservar um dos locais que seu pai mais gostava, o museu municipal da cidade, Carlos Eduardo Trott conta que o Sr. Adelmo é descendente de imigrantes alemães e sempre morou no mesmo lugar. “O pai sempre gostou muito da cidade, ele era apaixonado por Taquara, evitava até de viajar para não perder nada. Nasceu e morou ali até os 79 anos, na esquina da Faccat. Eu não sei quanto tempo vou viver, mas eu também estou ali”, comenta.
Adelmo Trott é filho de Francisco Trott e Maria Cândida Trott. Ele nasceu em Taquara no dia 21 de julho de 1921. Aos quatro anos, perdeu o pai e, desde muito novo, passou a ajudar sua mãe no armazém da família.
Em 1939/40 prestou serviço militar no Regimento de Artilharia, em São Leopoldo e 11 anos depois, se casou com Joecy de Azambuja Trott. Dessa união nasceram Luís Fernando, Eliane Maria e Carlos Eduardo. Carlos conta que seu pai foi agente municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Taquara, e atuava no Vale do Paranhana. Dessa forma, pôde conhecer muitas pessoas e se tornou um especialista na história da região. Após 30 anos de dedicação ao serviço público federal, Adelmo se aposentou de sua função e realizou o sonho de fundar o Museu Histórico Municipal na cidade, inaugurado em 1986 através de uma lei municipal.
A vontade de ajudar o próximo é contada com orgulho por Carlos, que comenta que o Sr. Adelmo sempre foi muito solícito com as pessoas interessadas pelo museu e suas histórias. “Meu pai era o centro das informações, sempre ajudou muita gente enquanto esteve à frente do museu” relata. Adelmo Trott faleceu em setembro de 2000.
Família Corrêa
O tempo não apagou as memórias do seu Cláudio Corrêa da Silva, dono da primeira loja de bicicletas da cidade.
Dono de uma lucidez cativante e no auge dos seus 90 anos, Cláudio Corrêa da Silva, filho de pai ferroviário e mãe dona de casa, é um dos responsáveis por movimentar a economia da cidade a partir do ano de 1949, quando inaugurou sua primeira oficina de bicicletas, na casa da mãe, no Morro da Formiga.
No entanto, Cláudio relata que sua paixão por bicicleta começou bem antes disso. “Eu tinha isso desde pequeno, meu irmão trabalhava em oficina de automóveis, então ele trazia as bicicletas usadas para nossa casa e eu preparava elas, arrumava,lixava e pintava desde aquele tempo, aí então quando nós viemos para Taquara, dois anos depois de meu pai falecer, eu comecei com oficina de bicicleta”, relata. Em 1958 seu comércio evoluiu e ele viu a necessidade de construir um novo espaço para sua loja, prédio este que existe até hoje, na Rua Júlio de Castilhos no centro da cidade. Dois anos depois, Cláudio inaugurou a nova loja e desde então realizou inúmeras competições, promoveu consórcios de bicicletas e passeios ciclísticos. Com sua memória quase que intacta, Corrêa lembra que entregou mais de cinco mil bicicletas nos 54 anos de loja. Hoje em dia, Cláudio Corrêa da Silva mora no sobrado construído para abrigar a loja, em 1960 e relembra com carinho todas as histórias desse quase centenário de vida.
Consórcio de bicicletas faz sucesso
Uma das tantas lembranças que o senhor Cláudio preserva com carinho é, sem dúvidas, a grande procura pelo consórcio das bicicletas. Em 1965, Corrêa conta que a aquisição podia ser feita através de um consórcio, por trinta parcelas mensais de cinco contos de réis. “Foram entregues mais de 700 bicicletas em 34 anos de existência do consórcio. O pessoal levava a sério o meu negócio. Quando tinha as assembleias eles vinham para acompanhar os sorteios, a gente entregava duas ou três bicicletas sempre. Quando chegava o Natal então, as pessoas procuravam mais por que aí queriam dar elas de presente”, relembra.
Família Wichmann
No estaleiro Wichmann foi construído o primeiro barco fabricado à gás.
Filho de João Otávio e Frida Kollet Wichmann, Flávio Wichmann tem 79 anos e relembra com destreza a história do estaleiro Wichmann, primeiro comercio de fabricação e manutenção de barcos da cidade.
A trajetória da sua família na região começa quando seu avô Friederich Emil Helmut Wichmann decidiu fugir do serviço militar na Alemanha em 1845, quando embarcou em um navio escondido e chegou no Brasil. Em solo brasileiro, Friederich viu na navegação um modo de sobreviver e desde então começou a trabalhar na área.
Após se consolidar em Taquara, Friederich viu a navegação perder espaço para os trens e o estaleiro se manteve até 1940. Atualmente Flávio conta que não há mais condições de navegabilidade no Rio dos Sinos. “Não tem mais como por causa do desmatamento, antes a vegetação que existia nas margens do rio, hoje em dia o nível de água é tão pouco que fica impossível um barco navegar”, lamenta.
Flávio reside em Taquara e mora com sua filha. Mesmo com algumas limitações em decorrência de um AVC, que sofreu quando tinha 46 anos, sua memória não o deixa na mão e o notável carinho com que relembra das histórias da família, fica evidente quando ele conta com orgulho que o estaleiro foi o único nos 133 anos de Taquara.
Texto: Lilian Moraes