Vacinação contra o coronavírus chega a todos os municípios do Vale do Paranhana

Enfermeira Raysa da Silva Dantas foi a primeira a receber a vacina em Igrejinha. Foto: Matheus de Oliveira

Região – Dois dias após a aprovação de uso emergencial da Coronavac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os municípios do Vale do Paranhana já vacinavam as primeiras pessoas contra o coronavírus. Em todas as cidades houve um ato simbólico para marcar o início da imunização.

Foram enviadas 1.728 doses para a região. A distribuição ficou da seguinte maneira: 569 para Parobé; 391 para Taquara; 400 para Três Coroas; 226 para Igrejinha; 68 para Rolante; e 74 para Riozinho. O segundo lote, com o mesmo número para cada município, deve ser enviado pelo Estado em até quatro semanas para aplicação da segunda dose nos pacientes já vacinados. Não há estimativa de quando uma nova remessa será encaminhada pelo Ministério da Saúde aos estados brasileiros.

Nesta primeira etapa o público a ser vacinado são os profissionais de saúde da linha de frente em hospitais, Atenção Básica e rede de urgência e emergência; pessoas acima de 60 anos que vivem em Instituições de Longa Permanência de Idosos e população indígena aldeada. Ou seja, diante do cenário de poucas doses e do grupo preferencial, a indicação das secretarias de saúde é de que a população não procure, ainda, pela imunização nas unidades de atendimento.

Em Igrejinha, a enfermeira Rayssa da Silva Dantas (foto acima) foi a primeira pessoa a receber a dose, na noite de terça-feira (19). Desde março ela atua na Unidade Municipal de Triageme foi escolhida em homenagem ao trabalho dos profissionais de saúde. “Pra mim isso representa felicidade e esperança. Só tenho a agradecer porque todo mundo no Brasil neste momento espera por esta vacina. Então eu recebi uma dose de esperança. Esperança que a gente vai passar por isso”, relatou, emocionada.

Vacina em Taquara
O município também realizou a primeira vacinação na terça-feira, com doses aplicadas em profissionais que trabalham na UTI Covid do Hospital Bom Jesus. A primeira a receber a imunização foi a enfermeira Nicole Leitzke de Moraes, pelas mãos da vacinadora do posto Piazito, Débora Schneider. “Emocionante”, comentou Nicole, mesmo sentimento compartilhado por Débora. A secretária de Saúde Ana Maria Rodrigues destaca que “é muito importante frisarmos que, neste primeiro momento, não temos vacinas para todos, assim que as doses forem sendo produzidas e destinadas aos estados e, consequentemente, aos municípios, vamos vacinando outros grupos prioritários.”

A primeira em Parobé
Na quarta-feira (20) pela manhã foi a vez de Parobé dar início às imunizações. E foi a responsável pela UTI do Hospital São Francisco de Assis, Fernanda Amandio Velho, de 34 anos, quem recebeu a primeira dose. “Fiquei emocionada e com uma sensação de esperança e de força para ir em frente. Perdemos um colega médico, da enfermagem e vimos familiares saindo despedaçados. Tem sido muito difícil essa parte mas, por outro lado, quando conseguimos devolver o paciente, a sensação é de vitória”, declarou. O município estima que sejam necessárias 945 doses para vacinar todo o primeiro grupo prioritário, com 420 trabalhadores do hospital, 250 colaboradores ligados a Secretaria de Saúde e 275 idosos em asilos.

Três Coroas, Riozinho e Rolante

Ainda na manhã de quarta, Três Coroas e Rolante tiveram a aplicação das primeiras doses da Coronavac em profissionais da saúde. Riozinho recebeu o primeiro lote apenas durante a tarde e realizou a vacinação em um idoso para marcar a arrancada da imunização na cidade.

Ainda não há definição do governo federal de quando uma nova remessa será encaminhada. O primeiro lote totalizava seis milhões de doses e teve o aval de uso pela Anvisa no último domingo (17). Na mesma ocasião foi autorizado o uso emergencial da vacina de Oxford, mas o governo não tem obtido sucesso nas negociações para trazer da Índia — local onde é produzida — o imunizante.

Entrevista com Dra. Nicole Golin, médica infectologista

Jornal Repercussão – Quem se vacinar corre algum risco, considerando o tempo recorde em que as vacinas foram produzidas ?
Nicole Golin – “De forma alguma.
Isso apenas prova como evoluímos em termos de pesquisas, ciência e tecnologia. Considerando, por exemplo, que a vacina da catapora levou 28 anos para ficar pronta, e uma das mais rápidas da história foi a da caxumba, com quatro anos de prazo, na década de 1960, esse corte no tempo na viabilização de vacinas contra Sars Cov2 está sendo obtido por meio de um somatório de fatores. Ele inclui uma mobilização incomum entre países, instituições, empresas e órgãos reguladores, além de uma considerável porção de conhecimento humano. A tecnologia sem dúvida tem sido o eixo central dessa velocidade de pesquisas e conclusões. Porém cabe salientar que dentre os atalhos para a chegada ao imunizante, estão a transparência e troca de informações entre os grandes centros de pesquisa no mundo todo, além de mudanças nas estruturas de produção.”

JR – A Coronavac ter eficácia geral de 50,4% é uma notícia boa ou ruim?
NG – “É uma notícia muito boa. Esse número está acima dos 50% requeridos universalmente para considerar uma vacina viável. Precisamos entender o seguinte: pelos dados apresentados, ao receber a vacina eu até posso adoecer, mas não terei uma doença grave, não vou internar, não vou para a UTI e nem precisarei de oxigênio. E esse é o principal objetivo nesse momento. Em termos de saúde pública, isso é importante para aliviar a pressão no sistema de saúde.”

JR – A vacina ter sido produzida na China representa algum risco?
NG – “Não. Infelizmente estamos lidando com muitas fake news e politizações desnecessárias nesse momento. Questionar a vacina porque a importação vem da China não muda o fato de que diversas outras são produzidas com insumos chineses ou indianos. Até mesmo a opção da universidade britânica de Oxford com a biofarmacêutica anglo-sueca AstraZeneca contra o vírus terá insumos farmacêuticos vindos da China. A presença dos chineses também é forte na importação de compostos para a fabricação de remédios, além de importar algumas medicações já prontas. Segundo a Abifiqui (Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos), somente 5% dos insumos utilizados pela indústria farmacêutica para a produção de remédios prontos são produzidos no Brasil — os outros 95% são importados. E cerca de 35% desses insumos importados pelo Brasil vêm da China, de acordo com relatório da Anvisa de outubro. O único país que exporta para o Brasil mais ingredientes do que China é a Índia: 37% dos insumos farmacêuticos vêm de lá. Ou seja, já utilizamos muitos insumos provenientes da China. Então questionar a qualidade da vacina por ter origem chinesa não faz sentido.”