Setembro amarelo

De acordo com o filósofo francês Albert Camus só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio.

É um questionamento básico, que antecede todos os demais: a vida vale a pena ser vivida?

A resposta a essa questão passa necessariamente pelo estado de nossa saúde mental. Somos capazes de desfrutar a vida? De continuar sentindo prazer? De enfrentar as dificuldades com uma estrutura suficientemente sólida? De se sentir pertencendo a algum grupo social?

De maneira geral, nossa resposta é afirmativa. Embora tenhamos que nos defrontar constantemente com situações que fazem vir à tona emoções negativas, desenvolvemos ao longo da vida capacidade de enfrentamento suficiente para continuar. Sabemos que vamos encontrar compensações para as quais dirigimos nossa atenção, nosso comportamento e nossa imaginação. Que ao pensarmos nessas ocasiões seremos inundados por uma sensação de bem-estar. Viver essas ocasiões afirma nossa autoestima, nosso senso de identidade, nosso senso intimo de que a vida é uma aventura maravilhosa e que somos privilegiados por podermos desfrutá-la.

No entanto, para uma variedade de pessoas a resposta é negativa. A vida sempre foi ou veio a se tornar um peso. Os pensamentos são distorcidos ou disfuncionais. Existe a sensação de que algo terrível e incontrolável vai ocorrer a qualquer momento. O mundo todo é um imenso vazio tingido de cores escuras. O pensamento, o comportamento e as emoções fogem completamente ao controle. O mundo está repleto de visões ilusórias, medos infundados, ideias que não correspondem aos fatos.

Essas pessoas não gozam de boa saúde mental. Precisam ser ajudadas. Sofrem tão intensamente que estão no seu limite psíquico. Não suportam mais conviver com esse sofrimento e ao não ver formas de atenuá-lo, decidem procurar a morte.

Entende-se que essas pessoas sofrem de algum transtorno mental. Com efeito, pesquisas recentes nos mostram que mais de 90% das pessoas que se suicidam sofrem de alguma forma de distúrbio psíquico.

A forma mais eficaz de combater o suicídio consiste, justamente, no tratamento dos transtornos mentais, uma vez que são os seus sintomas que ocasionam o intenso sofrimento que leva os indivíduos a cometerem o ato.

A combinação de farmacoterapia com psicoterapia alcança um alto índice de remissão desses sintomas, além de ajudar as pessoas a reconstruir suas vidas sob bases mais saudáveis. Em uma psicoterapia, os pacientes compreendem que o suicídio é a busca desesperada de acabar com o sofrimento, que não querem terminar a vida, querem terminar com a dor.

Assim, a resposta mais atualizada à questão de Camus deveria ser: se estou sentindo que minha vida não vale mais a pena ser vivida, devo buscar tratamento psicológico e psiquiátrico e persistir nele o tempo que for necessário.

Embora exista tratamento com altos índices de êxito, grande parte das pessoas com transtorno mental não procura um profissional da área. Assim, a disseminação das informações a respeito de prevenção e identificação dos riscos de suicídio, bem como acolhimento a esses sujeitos devem ser saudadas.

Em 2014, iniciou-se no Brasil, por iniciativa do CVV (Centro de Valorização da Vida), Associação Brasileira de Psiquiatria e Conselho Federal de Medicina uma campanha de prevenção ao suicídio: o setembro amarelo. Durante todo o mês de setembro estimula-se a difusão de informações sobre a prevenção, além de lembrar através da exposição da cor amarela, a necessidade de estar atento e receptivo aos sinais de risco e engajado nas melhores ações para evitar a concretização do ato.

Os principais sinais de alerta, segundo o Ministério da Saúde, são os seguintes: aparecimento ou agravamento de problemas de conduta, preocupação com a própria morte, falta de esperança, expressão de ideias ou intenções suicidas e isolamento.

Ao se deparar com esses sinais de risco, é importante dar toda atenção, escutando com empatia, sem mudar de assunto, sem julgamento, sem fazer comentários do tipo “anime-se”, bem como acolher a dor, o medo e a ansiedade e procurar um profissional de saúde para auxiliar.

Nota da Redação: Opiniões e comentários publicados na página 2 da edição impressa, bem como reproduzidos neste meio digital, são de inteira responsabilidade do autor. Eventualmente poderão ser resumidos.