Primeira vacinada contra covid-19 em Igrejinha deixa seu relato: “uma recarga de energia para continuar”

Enfermeira Raysa da Silva Dantas foi a primeira a receber a vacina em Igrejinha. Foto: Matheus de Oliveira

Igrejinha – Traduzindo a esperança em novos dias, da volta dos abraços e carinhos, dos encontros presenciais, a vacinação contra a Covid-19 encheu os brasileiros de expectativa. Em Igrejinha, uma voluntária da Oktoberfest, que desde o início luta no atendimento às pessoas que sofrem com a infecção com o novo coronavírus, foi a primeira profissional de saúde vacinada. Graduada em enfermagem há sete anos, a nordestina e gaúcha de coração Raysa da Silva Dantas, 28 anos, recebeu a dose no último dia 19. “Foi inexplicável aquele momento, me senti a pessoa mais feliz do mundo, uma recarga de energia para continuar”, contou.

Raysa conhece bem o parque da Oktoberfest. Trabalha voluntariamente na Casa da Saúde, junto à equipe de enfermagem, ajudando a garantir uma festa segura a todos os visitantes. Com especialização em urgência e emergência e Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a enfermeira destaca que, em 2017, em uma conversa com colegas de profissão que trabalham em Igrejinha, surgiu a ideia de enviar o currículo para o Hospital Bom Pastor, tradicionalmente a entidade que recebe o maior volume de repasses da Oktober. “Enviei o currículo e, para minha surpresa, no início de novembro de 2017 recebi uma ligação inesperada da psicóloga do hospital, me informando que o meu currículo tinha sido escolhido para a seleção de enfermeiros. Logo me interessei e não pensei duas vezes, comprei a passagem para o Rio Grande do Sul e no dia 28 de novembro cheguei a Igrejinha para a seleção de enfermagem”, contou, sobre a sua vinda para o estado e a nova casa.

 Iniciou sua atuação junto ao Hospital Bom Pastor como enfermeira que cobre as folgas dos outros colegas, mas foi conquistando novos espaços na casa de saúde. Em março do ano passado, a pandemia chegou no país e a prefeitura de Igrejinha organizou a Unidade de Triagem Municipal de Sintomas Gripais. Raysa foi chamada pela coordenadora de enfermagem do hospital e comunicada de que passaria a atender junto à nova unidade. “No primeiro momento fiquei nervosa, tinha medo da Covid-19 e tudo o que ela estava causando ao redor do mundo, mas aceitei o desafio e dei início a uma nova etapa na minha vida profissional”, relembra.

E o parque que sedia a Oktoberfest, em seu ginásio, foi o primeiro local em que a Unidade de Triagem foi montada pela prefeitura. Raysa lembra que, nos primeiros dias, nos raros intervalos, andava pelo parque para desligar um pouco do vírus, respirar e se conectar com a família no nordeste. “Com o avanço do vírus, atendíamos cada vez mais pacientes e eu achei que não ia conseguir atender a todos, muitos pacientes positivaram, famílias inteiras contaminadas, óbitos, rosto ferido pelo uso da máscara, estresse, medo e saudades. As horas não passavam, e a cada dia mais pessoas procuravam atendimento, os números não diminuíam”, recorda. “Desde março, passei por muitos momentos, criei vínculos com os colegas da linha de frente, com pacientes, tomei atitudes e fiz cobranças quando necessário, tudo o que fiz, foi para as pessoas, para o bem delas. Recebi muitas mensagens de agradecimento e apoio que me fizeram acreditar que estou seguindo e orientando as equipes e pacientes de forma correta. É gratificante olhar para trás e ver o quanto eu e a equipe crescemos”, conta, sobre os momentos de atendimentos.

Parque como casa
A intensa rotina dos profissionais de saúde no atendimento às pessoas que são acometidas pelo novo coronavírus é traduzida pelo relato de Raysa. “Durante oito meses, o parque foi a minha casa, naqueles momentos em que um descanso foi possível, conheci cada cantinho dele e relembrei dos momentos em que fui voluntária da festa, encontrei fotos das edições passadas e conheci a história da Vila Germânica. Quase morri assustada quando encontrei as quatro lápides ao lado da igreja, ninguém queria me contar a história envolvida, só para me deixar mais curiosa. Houve momentos em que chorei no deck do armazém, um dos lugares mais lindos do parque, várias vezes subi no palco principal e lembrei todos os momentos que vivi na Oktoberfest, tanto me divertindo na festa como trabalhando na enfermaria. As soberanas e as candidatas de 2020 que me desculpem, mais eu fui a rainha COVID-19 da Oktoberfest 2020. O parque é um lugar lindo com uma energia contagiante”, descreve.

No dia 17 de janeiro, quando foi noticiado que a primeira pessoa no Brasil recebeu a vacina, Raysa diz que chorou de alegria. E, para completar essa euforia, no dia seguinte, a enfermeira recebeu uma ligação da secretária de Saúde de Igrejinha, Simone do Amaral, também voluntária da Oktoberfest. O recado: Raysa seria a primeira a ser vacinada no município. “Claro que eu achei que era brincadeira, fiquei falando que precisava arrumar os cabelos e fazer as unhas. Demorou muito para acreditar na notícia. Na terça-feira [dia da vacina] eu estava muito nervosa. Quem me conhece sabe o quanto sou tímida e o quanto eu fico nervosa só em pensar em falar em público”, relembra. Naquela noite da imunização, Raysa diz ter o sentimento de que estava sendo abraçada por todos os pacientes que passaram pela Unidade de Triagem Municipal, pela família e por todos que a desafiaram e acreditaram que ela conseguiria vencer. “Foi inexplicável aquele momento, me senti a pessoa mais feliz do mundo, foi uma recarga de energia enorme para continuar. Acredito que todos igrejinhenses ficaram felizes com minha vacinação, e que estão com esperança que futuramente todos serão vacinados. Enquanto isso não acontece, devemos continuar respeitando todas as medidas de prevenção, uso de máscaras, higienização frequente das mãos entre outros”, reforça.