Especialistas explicam os motivos pelos quais o ato de morder pode ser considerado comum entre as crianças

Bebês tendem a usar a oralidade para conhecer o mundo através da boca Foto: Divulgação

Um consenso entre os profissionais de saúde é de que o ato de morder faz parte do desenvolvimento das crianças. Seja para expressar sentimentos ou para encontrar formas de se comunicar, é fato que a mordida está presente no dia a dia de famílias que contam com a presença de um bebê dentro de casa.
Tânia Bergold, psicóloga do Hospital São Francisco de Assis, de Parobé, explica que esse comportamento é comum e pode se estender até por volta dos dois anos, pois é neste período em que as crianças conhecem o mundo através da sua oralidade.
Dentro de um cenário escolar, esse tipo de atitude pode ser frequente, considerando o número de crianças em um mesmo espaço. Questionada sobre a importância de os pais ficarem atentos a esse tipo de comportamento, a psicóloga explica que os casos precisam ser entendidos dentro de seus contextos e especificidades, mas que os pais precisam, sim, estar atentos as diferentes formas de manifestações das crianças. “Existem inúmeras variáveis. Fica difícil a gente falar de um caso específico, mas existe essa necessidade, porque ela não verbaliza, mas manda recados de maneiras distintas e eles precisam ser compreendidos”, contextualiza Tânia.
Carolina da Silva, aluna de psicologia na Universidade Feevale e estagiária da área na casa de saúde, cita o ambiente familiar como ferramenta importante para que essa conduta seja entendida. Confira abaixo o posicionamento da estudante.

Tempo de qualidade é essencial

Recomendação é não generalizar situações e acolher ambas as crianças

O médico pediatra do Hospital Bom Pastor, Álvaro Duran, destaca que casos de mordidas não devem ser generalizados como atos que expressam maldade e, principalmente, as crianças que mordem não podem ser rotuladas como agressivas. “Não se deve afastar e rotular essa criança. Deve-se acolher a vítima, mas não afastar a que mordeu, porque rotular aquela criança como agressiva faz com que ela cresça com o sentimento de que ela é uma agressora. E se vê muito nas escolas. Aquele que bate e morde é o violento, então, as crianças acabam ficando longe dela, quando deve ser o contrário”, explica Duran.

Especialistas avaliam

Dr. Álvaro Duran, pediatra. “O carinho, o amor, o afeto, esses valores que devem ser fornecidos pelo pai e pela mãe para esse filho. Hoje em dia, em alguns casos, querem delegar essa responsabilidade para uma professora ou educadora. Isso é insubstituível, não pode ser atribuído”.

Tânia Bergold, psicóloga do HSFA. “Tem fases. Em um olhar mais da psicanálise, Freud traz isso para psicologia: a fase oral, a fase anal e do complexo de Édipo. Então essa criança que morde estaria na fase oral, que tudo que ela conhecer ela usa a oralidade. Vai até por volta de uns dois anos”.

Doutor analisa

No que diz respeito aos ambientes escolares, o doutor expõe sua opinião sobre situações que acaba acompanhando e trabalhando na área. “Hoje em dia algumas famílias deixam uma professora com 20 crianças para educar/cuidar do filho, ou seja, uma responsabilidade que deve ser do núcleo familiar está sendo delegada para uma pessoa que tem que dar o melhor de si para 20 crianças em volta”, enfatiza, complementando que entende que valores que fazem parte do desenvolvimento da criança como ser humano devem ser transmitidos pelo pai e pela mãe. “Eu acho que nesse ponto pode ser que saia um pouco do contexto do que é morder, mas quando a gente vê esse ato como algo que faltou corrigir, então podemos mencionar que está faltando um pouco também de alguns cuidados para essa criança. Pode ser um ato de expressão linguística, mas pode ser um ato que faltou ser repreendido, então, isso também é importante entender”, comenta.