De cada dez internados na UTI Covid de Parobé, sete vieram a óbito em março

Números do hospital são do mês de março, o mais letal desde o início da pandemia Foto: Melissa Costa

Parobé – Um estudo técnico realizado pela equipe médica do Hospital São Francisco de Assis, e obtido com exclusividade pela reportagem do Repercussão, revelou que de cada dez pacientes internados na UTI Covid, sete vieram a falecer. Os dados do tratamento intensivo são bem diferentes das internações clínicas, que registraram uma taxa de recuperação próxima de 90%. A análise contempla o mês de março, marcado por ter sido o período mais letal da pandemia no Brasil e na região.

Um dos médicos responsáveis pelo estudo, o Dr. Alexandre Jodeles ressalta que as equipes tomam medidas para evitar piora no quadro e uma eventual transferência à UTI. “A gente estabiliza os casos com oxigênio, antibióticos e tratamentos para doenças como diabetes e pressão alta. A maioria desses pacientes vai para casa”, observa.

A mudança radical nos indicadores relacionados à UTI do hospital não estão necessariamente ligados à intubação, mas sim ao agravamento da saúde dos pacientes. “Nosso raciocínio é de tentar evitar a intubação. A gente referencia para a UTI assim que for preciso, para tratar e evitar isso”, diz o médico, que coordena a área clínica não covid da instituição.

Importância de procurar ajuda
Um dado que não pertence ao estudo, mas vem da observação prática de quem está dia após dia no front, é de que a maioria dos hospitalizados em estado precoce evoluem melhor do que os que esperam em casa e procuram atendimento com quadro mais tardio. “Isso é bastante nítido”, afirma o médico.

“Todos os atendimentos relacionados à covid no hospital estão sendo registrados e nós estamos fazendo os nossos indicadores, até para sabermos a nossa taxa de sucesso no tratamento dos pacientes”, explica Jodeles sobre o objetivo do estudo. Ele ressalta que os dados sobre internações clínicas apontam que o trabalho das equipes tem sido bem sucedido. “Justifica tudo o que foi feito no hospital, porque boa parte desse leitos foram abertos em março.”

Variante P1
Na comparação com março de 2020, no início da pandemia de coronavírus, houve uma mudança drástica no perfil dos hospitalizados. “Ano passado 80% dos pacientes eram idosos, obesos ou pessoas com outras doenças. Este ano, principalmente em março, podemos dizer que 60% eram pacientes jovens e sem comorbidades, ou com comorbidades leves”, detalha Jodeles. O novo padrão de internações é atribuído à variante do vírus denominada P1, que atinge com mais força os mais jovens, mudando a faixa de risco.

“Para se ter uma ideia, temos pacientes de 20 a 78 anos internados em UTI. A concentração maior hoje (terça-feira, dia 13) é na faixa etária entre 41 e 71 anos. Ano passado era acima de 60, então é uma mudança bastante nítida”, ressalta.

O estudo realizado serve para orientar o trabalho das equipes. O segundo ponto é associar os dados com análises internacionais para saber se há necessidade de alterar a rotina de internação. “Nós seguimos os protocolos do Consenso Europeu de Pneumologia, essa é nossa base teórica. Mas, desde o início da pandemia até agora, pequenas mudanças foram feitas em algumas coisas técnicas, relacionadas a medicações, padrões de ventilação e antibióticos”, conclui o médico.

Durante março, 86 pacientes estiveram internados na UTI do Hospital São Francisco de Assis.