Caso do recém-nascido que veio a óbito no hospital de Parobé causa polêmicas, indignação e comoção

Parobé – “Chegamos por volta de 1h45 no hospital com nosso filho passando mal. Ele já estava virando os olhos pra cima de tanto vomitar. Não tinha ninguém pra atender a gente, até que perdi a paciência e meti o pé na porta para que alguém fizesse alguma coisa”. Esta é uma parte do relato de Ulzias Schuler, de 25 anos, pai do bebê que veio a óbito na manhã de domingo, dia 30 de junho, no Hospital São Francisco de Assis (HSFA). Pedro Kauan Telles Schuller deixou sua família com apenas 29 dias de vida. A criança passou por uma série de complicações desde seu nascimento, vindo a ter um agravamento no seu quadro de saúde durante o sábado que precedeu seu óbito. O ato desesperado do pai aconteceu na madrugada de domingo (30). 

Em nota oficial, o HSFA informou que, de acordo com registros do sistema e câmeras de monitoramento, a criança foi trazida à emergência às 1h47 de domingo e foi atendida às 2h08. A instituição informou também que neste horário estavam sendo atendidos na sala vermelha três pacientes graves. As salas de observação e de medicação estavam lotadas, o que mobilizou todas as equipes nos atendimentos. O hospital ressalta que foram tomadas todas as medidas necessárias.“Tentamos transferência para o Hospital da PUC via Central de Leitos, mas não conseguimos vaga disponível pelo Gerint (sistema do Governo do Estado). Durante todo o período que a criança permaneceu no HSFA o pediatra esteve ao lado da criança fazendo tudo o que estava ao nosso alcance, pois era um caso grave’, relata o diretor-técnico, Dr. Tadeu Stringari. “O paciente foi entubado e foram feitos todos os procedimentos, mas, infelizmente, às 7h20 a criança foi a óbito” explica. 

A mãe de Pedro Kauan, Geane da Rosa Telles, de 15 anos, confirmou à reportagem que, de fato, um pediatra esteve ao lado da criança desde que foram atendidos no HSFA. Mas, para ela, já era tarde demais. A indignação fica, principalmente, pela falta de atendimento imediato para a criança, e também pela indisponibilidade de pessoas na recepção.

Secretaria de Saúde fez o possível pela família

Os acontecimentos tiveram uma grande propagação pela comunidade, principalmente em grupos de redes sociais. A repercussão fez com que autoridades e responsáveis se mobilizassem para apurar como foram os procedimentos envolvendo a criança. Na segunda-feira, dia 1°, o gabinete da presidência do Legislativo de Parobé sediou uma reunião emergencial com diretores do hospital. Além dos vereadores, o prefeito Irton Feller presenciou o encontro junto com sua vice, que também é secretária da Saúde, Marizete Pinheiro.“Foi feito todo o atendimento à família por parte do que a Prefeitura poderia ofertar. O que desencadeou esta situação lamentável foi no momento da emergência na Casa de Saúde”, destaca a secretária, se referindo ao incidente que aconteceu durante uma cirurgia na UTI neonatal do Hospital da PUC.

Incidente durante cirurgia deixa questionamentos  

A família relata que os problemas começaram logo após o nascimento. “Assim que ele nasceu já dava pra perceber que tinha coisa errada. Estava com um aspecto muito amarelado, mas a recomendação dos médicos foi de levar o bebê pra casa e dar banho de sol”, nos conta a avó do menino, Lioni Telles, de 55 anos. O procedimento indicado não apresentou resultados. No quinto dia de vida, Pedro foi realizar o Teste do Pezinho quando um dos médicos se espantou com a coloração da criança e exigiu alguns exames. Os resultados apontaram um quadro de icterícia. A ordem foi de que o recém-nascido fosse levado com urgência para a UTI neonatal da PUC, em Porto Alegre. 

Chegando no hospital, Pedro foi encaminhado para o banho de luz, onde passou um dia. Após esse período, no dia 7 de junho, uma cirurgia de transfusão de sangue aconteceu, porém, durante o procedimento, houve uma complicação na hora de achar as veias da criança. Os pais explicam que sob essa circunstância, os médicos tiveram que fazer uma incisão na altura do abdômen, que acidentalmente cortou o intestino do bebê. A situação foi controlada. Dia após dia a saúde de Pedro apresentou melhoras depois da cirurgia. Ele foi liberado em 26 de junho.

Causas da morte no atestado 

Pedro chegou bem em casa. No dia seguinte começaram a surgir sintomas que novamente preocuparam a família. Nada parava no estômago – a criança vomitava logo após ser amamentada. Na quinta e sexta-feira o líquido expelido tinha uma consistência normal, segundo os familiares. No sábado, o vômito começou a sair amarelo. Os pais então retornaram ao HSFA para consulta, durante a manhã. Atendidos pelo Dr. Pimentel, a família relata que o médico viu normalidade no quadro e recomendou um remédio. Durante o dia a situação se agravou, e sem poder esperar mais, foram novamente ao hospital, já na madrugada, na situação assinalada na abertura da matéria. Os registros oficiais apontam choque séptico, sepse e icterícia neonatal como causas da morte.

Sindicância vai apurar o caso

João Schmidt, Diretor Técnico do HSFA, explica como serão os procedimentos para mais esclarecimentos sobre o caso: “vai ser aberta a sindicância para elucidação dos fatos. Isso é o que foi combinado na reunião realizada com os vereadores no dia após o ocorrido. A sindicância não envolve somente o hospital, mas também membros da área técnica da Secretaria de Saúde, para que haja a maior isenção possível no levantamento dos dados”. João também ressalta que a investigação vai acontecer com eventos ocorridos fora do HSFA, visto que houve internação e tratamento da criança em outras instituições. O prazo estimado para entrega de um documento com os levantamentos feitos pela investigação é de 15 dias. A sindicância é uma apuração que não termina necessariamente em culpados, mas permite a identificação de cada passo que seja significativo para o processo.

Nas redes sociais

O caso gera comoção e indignação na comunidade. Nas mídias sociais, muitos comentários de acusação foram feitos ao HSFA, que se manifesta: “Somos profissionais de saúde. Por vocação e por escolha, todos os nossos dias são dedicados a salvar vidas. Também somos pais, mães, avós… por isso nos solidarizamos com a família. Mas não podemos deixar de registrar que nos entristece o desrespeito com que um caso tão delicado como este está sendo tratado nas redes sociais.”