Água da Corsan precisa de novos métodos de tratamento, garante pesquisador de universidade

Os químicos que fazem mal a saúde constatados na água do Paranhana

Fonte e local da consulta: https://portrasdoalimento.info/agrotoxico-na-agua/

Região – Após ler essa reportagem, certamente, cada copo de água que o amigo leitor consumir, entrará em profunda reflexão. Recente produção jornalística da ONG Repórter Brasil e pela Pública Agência de Jornalismo Investigativo, revelou dados preocupantes sobre a qualidade da água consumida no Brasil, e também, aqui no Vale do Paranhana
Amostras de água bruta – ou seja, a água sem o tratamento químico da Corsan – coletado entre 2014 e 2017 trouxe uma constatação que reacendeu o sinal de alerta em grupos de pesquisas das universidades, ambientalistas, companhias de saneamento e entidades empresariais. A água do Rio dos Sinos – especialmente no ponto de coleta, em Taquara -, acusou a existência de 13 agrotóxicos. Deste total, quatro tipos (Cabendazim, DDT, DDD, DDE, Diuron e Mancozebe) possuem relação direta em doenças crônicas como câncer, má formação congênita e distúrbios endócrinos. Além destes quatro tipos altamente devastadores ao ser humano, as amostras continham outras nove substâncias, entre elas a Aldicarbe, Carbofurano, Clorpirifós, Metamídofos, Parationa Metálica, Profenofós, Teburconazol e Terbufós.
Indigesto – pois se trata de uma necessidade primordial, a água – o estudo gerou estardalhaço no Brasil inteiro, e os idealizadores do estudo sofrem constantes ataques.

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Outras observações

 A Corsan ainda argumentou que todas as análises referem-se a amostras de água bruta (ainda não tratada). E mesmo em nenhum deles foi identificado valor acima do limite máximo permitido para a legislação européia e brasileira. Confira a nota despachada pela Corsan recentemente.
“Sobre matéria publicada nos últimos dias, relacionando a contaminação por agrotóxicos na água tratada, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) informa que a água distribuída à população nos 317 municípios gaúchos atende rigorosamente a legislação brasileira que determina os parâmetros de potabilidade da água para os sistemas de abastecimento.
Também são monitorados outros 46 tipos em atendimento à legislação estadual (Portaria 320/2014 da Secretaria da Saúde. A Corsan ressalta que os dados utilizados na pesquisa apresentada foram retirados do Sisagua (Sistema de Abastecimento de Informação de Vigilância de Qualidade da Água para Consumo Humano) e referem-se a amostras de água bruta (ainda não tratada). A empresa informa que, sempre quando é detectado algum agrotóxico na água bruta, é realizada a análise da água tratada correspondente, não havendo histórico de presença desse agente após o tratamento”.

 

 

 

 

“Discutir a legislação brasileira atual é uma perda de tempo, pois estamos à beira do caos” Dr. Marco Antonio Siqueira Rodrigues
coordenador do mestrado profissional em Tecnologia de Materiais e Processos Industriais do Curso de Engenharia Química da Feevale

Entrevista

 Jornal Repercussão – O senhor conseguiu analisar o estudo? Qual a sua avaliação?
 Marco Antonio – Esse estudo apresenta um terrível cenário, que a população brasileira não quer ver, mas que os cientistas já conhecem e estão tentando demostrar à sociedade. Precisamos discutir sobre as doenças de veiculação hídrica. Elas existem e causam sérios problemas à população.

 Jornal Repercussão – Mesmo que a maioria dos agrotóxicos encontrados nas amostras de água bruta testadas estejam abaixo do limite máximo estipulado pela legislação brasileira, considerando os limites da União Européia, estas mesmas quantidades seriam alarmantes. Como o professor enxerga essa discrepância?
Marco Antonio – Vivemos em uma época difícil, mas importante para o Brasil. Nos dias atuais, discutir a legislação brasileira atual é uma perda de tempo, pois estamos à beira do caos. A nossa nova política de liberação de substâncias, as quais são proibidas em muitos países, para uso na agricultura é preocupante. Pois, se nada for feito, a contaminação dos recursos hídricos pode aumentar exponencialmente nos próximos anos. Precisamos evoluir muito os mecanismos legais que tratam de determinar as concentrações toleráveis de substâncias presentes na água para abastecimento público. Pesquisas desenvolvidas no laboratório Aquário, da Universidade Feevale, demostram que o uso, somente, dos parâmetros físico-químicos, empregados tradicionalmente, para avaliar a qualidade da água, se tornaram obsoletos. para indicar de forma segura. a qualidade de água a a ser fornecida à população. Precisamos de indicadores que avaliam o corpo hídrico de uma maneira mais integral, e, urgentemente usar bio-indicadores associados aos dados físico-químicos de forma que se possam determinar os reais dados da contaminação dos recursos hídricos e informar os perigos às pessoas que consome a água fornecida.

 Jornal Repercussão – Como o senhor analisa o atual conjunto de químicos que a Corsan utiliza, no Estado inteiro, para tratar a água consumida por milhões de gaúchos?
Marco Antonio – O tratamento convencional não é capaz de remover muitos dos compostos presentes no coquetel de agrotóxicos, isto já é público há vários anos. Mas, o fato mais alarmante é que também já é comprovado que durante o tratamento da água com os atuais produtos descritos (veja box na página ao lado) também formam produtos tóxicos à saúde.

Jornal Repercussão – Dentre tantos componentes encontrados, cite alguns e perigosas consequências?
Marco Antonio – A lista é enorme. Mas, os efluentes industriais e domésticos tratados por processos convencionais lançam a cada minuto muitos, muitos compostos que fazem mal a nossa saúde.

 Jornal Repercussão – Como o Sr. avalia uma solução?
 Marco Antonio – Primeiro, as pessoas se darem contam que este recurso natural é finito e começarem a mudar seus hábitos.

 Jornal Repercussão – É possível reconquistar uma água potável?
 Marco Antonio – Sim, claro basta a população começar a se dar conta da baixa qualidade de água que recebe, neste ponto incluo muitas das fontes de água minerais vendidas em garrafas. Muitas companhias que fornecem água à população operam na ótica do lucro, ou seja, quanto mais eu cobrar para fornecer água e mais rudimentar o meio tratamento, mais elevado é o lucro. Claro os custos com gastos na saúde e mortes relacionado as doenças hídricas são divididos, pagas pela sociedade naturalmente.

 Jornal Repercussão – Na sua visão, a legislação brasileira precisa mudar?
 Marco Antonio – Muito. Precisa de uma reforma conceitual, não podemos conviver com companhias de saneamento captando água de corpos hídricos poluídos e realizarem um tratamento simplório e fornecer água para população.
 Jornal Repercussão – A Fiscalização precisa ser mais rígida, assim como as punições?
 Marco Antonio – Sim a fiscalização precisa ser rígida, mas na atualidade, ela precisa ser mais atuante e presente, constante. Mas, para isto os órgãos de fiscalização devem ser instrumentados. O que vem acontecendo é o desmonte deste órgão ano após ano…

 Jornal Repercussão – Faça considerações finais sobre o tema.
 Marco Antonio – A Universidade Feevale tem um grupo de pesquisa que desenvolve pesquisas aplicadas ao desenvolvimento de tecnologias e processos de tratamento de água para abastecimento público e efluentes industriais e urbanos. Atualmente, o laboratório aquário desenvolve um projeto financiado pela finep com a Comusa, empresa de saneamento de Novo Hamburgo. Temos ainda um projeto em REDE, formada por três universidades brasileiras em parceria com uma companhia de saneamento municipal e pretende investigar novas tecnologias de tratamento para remoção de compostos inorgânicos, metais e compostos orgânicos persistentes. Também busca investigar a qualidade da água captada, da água tratada por processo convencional, por processo de separação de membrana – PSM (osmose reversa, nanofiltração e eletrodiálise), processos oxidativos avançados.