Sete meses depois, filho ainda luta para superar perda do pai morto em assalto

Aloísio e a esposa Veronice lembram com carinho de Abílio, morto por criminosos em um assalto (Foto: Melissa Costa)

Três Coroas – A véspera do Natal de 2021 foi um dos períodos mais tristes e cruéis para o agricultor Aloísio Port, de 46 anos. No dia 22 de dezembro do ano passado, o pai Abílio Port, de 75 anos, morreu praticamente nos seus braços após ser alvejado por quatro criminosos durante um assalto no interior de Três Coroas.

Os dois estavam quase chegando em casa, na localidade de Canastra Alta, quando se depararam com uma caminhonete no meio da rua. Logo, as vítimas pensaram que o grupo estava com pneu furado e necessitando de ajuda. Pararam para prestar socorro e, então, antes mesmo de descer do veículo, foram surpreendidos pelo anúncio de um assalto. Todos portavam armas. “A gente tem um bom coração, um nos pediu o macaco e nossa intenção era ajudar. É um barranco, no susto, deixei o carro correr e eles já começaram a atirar”, relembra Aloísio, que acelerou o carro e atingiu a caminhonete dos bandidos. O veículo desceu um barranco, o que deixou a quadrilha a pé.

Com os olhos lacrimejando, ele recorda dos últimos momentos de vida do pai. “Foi terrível, ele só gritou. Não tenho certeza se disse estamos mortos ou estou morto. Ele tomou os tiros e se jogou por cima de mim. Arranquei o carro e fui com tudo. Quando consegui chegar na frente de casa, vi que não havia mais o que fazer”. Abílio foi morto com tiros no peito, entre três e quatro disparos. “Nem quis ver muitos detalhes, foi uma covardia o que fizeram”, lamentou.

Mais de 40 horas de buscas colocou quatro criminosos na cadeia

Pai, filho e comparsa foram os primeiros a serem presos após horas de buscas e investigação da BM e PC (Foto: Polícia Civil)

Policiais militares foram acionados e, durante cerca de 40 horas ininterruptas, fizeram buscas pelos criminosos. Brigadianos e policiais civis de toda a região se uniram e só pararam o trabalho após as prisões. “Eles não pararam. A todo momento, mantinham contato. Tem policial que esticou turno, só tenho a agradecer a todos que nos ajudaram”, disse ele. Nas primeiras 24 horas, três bandidos foram presos. Entre eles, estavam pai e filho, que são parentes e vizinhos da vítima, e um terceiro comparsa. Perto de 40 horas de buscas, o quarto acusado foi preso. E antes da virada do ano, o último.

Foi no velório e lamentou morte

Descobrir que pai e filho estavam envolvidos no assalto deixou Aloísio ainda mais espantado. O pai é acusado de ser o mentor e o filho e outros três comparsas da região praticaram o roubo. Logo após o assalto, Aloísio chegou a pedir ajuda para o familiar. “Por telefone, ele tentou despistar a polícia, dando endereço errado. Mas alguns policiais me conheciam e vieram direto na nossa casa”. O acusado chegou a ir no enterro do idoso, mas acabou preso momentos depois, já em casa. “É difícil de acreditar, veio no velório ainda”.

Presos por muito tempo

Aloísio já participou da primeira audiência do caso. De forma on-line, ela ocorreu das 9 às 13 horas. Os cinco respondem por latrocínio (roubo seguido de morte) e os que trocaram tiros com a polícia, no momento das prisões no matagal, também respondem por tentativa de homicídio contra os policiais. “Só quero que a justiça seja feita. Espero que eles fiquem presos por muito tempo, não que daqui alguns meses estejam respondendo em liberdade”, disse o filho.

A esposa de Aloísio, Veronice Port, conta que o sogro era uma pessoa muito querida. “Desejamos que eles fiquem presos e que possamos superar tudo isso”.

O período do Natal e Ano Novo foram reconfortantes graças ao apoio de familiares e amigos. “Por cerca de 20 dias, não ficamos sozinhos. Sempre havia alguém conosco, e isso ajudou, nos confortou”, lembrou Veronice. Aloísio diz que ainda é difícil falar do assunto. “O que conforta é a nossa fé, que se manteve forte, e o apoio de todos a nossa volta. Nasci aqui na localidade e recebemos muita ajuda”, finalizou.