Quadrilha que fazia moradores reféns para traficar é desarticulada em Taquara

Droga embalada pronta para a venda apreendida na operação (Foto: Polícia Civil)

Taquara – Com cerca de três meses de investigação, a Polícia Civil de Taquara desarticulou um grupo criminoso que traficava e fazia moradores reféns nas suas próprias casas no interior do município.

Uma grande operação foi desencadeada na terça-feira (19), reunindo quase 50 policiais civis e militares de toda região. A investida ocorreu na localidade de Santa Cruz da Concórdia. Em razão da distância do Centro e se precavendo de uma possível troca de tiros, a operação contou com apoio dos bombeiros, caso fosse necessário algum resgate e atendimento pré-hospitalar.

Foram presos seis criminosos por tráfico de drogas, associação ao tráfico e extorsão. O delegado Marcos Falcão explica que os presos traficavam e buscavam o domínio da localidade. “A droga chegava da região metropolitana para lá e eles usavam alguns imóveis para dividir a droga e embalar. Já outros imóveis eram utilizados para a venda, diretamente como ponto de tráfico. Em pelo menos três casas, eles as utilizavam de apoio, usando wi-fi dos moradores, tomando banho e outras coisas piores. Com medo, moradores estavam reféns dentro das suas próprias casas. Isso não pode acontecer”, disse o delegado.

Ladrões torturados por agirem na localidade

Delegado Falcão comandou a investigação

Os seis criminosos presos, conforme Falcão, integram a facção que comanda o tráfico de drogas em Taquara. Um deles, inclusive, é considerado líder. “Ele quem mandava, determinava, dava ordens e atribuía papeis ao grupo; ele estava alguns degraus acima da estrutura da facção. Os demais eram utilizados para a traficância e divisão de força de trabalho”, pontuou o delegado.

A chegada da polícia na localidade ocorreu, inicialmente, por um aumento significativo nos arrombamentos às residências e crimes de abigeato. “Passamos a promover reuniões, com apoio da BM, barreiras e a estar mais presente lá”. Com isso, segundo o delegado, o grupo responsável pelo tráfico decidiu fazer justiça com as próprias mãos, torturando e espancando os arrombadores – na maioria usuários de drogas. “Eles queriam que os furtos parassem para que a polícia não estivesse presente, podendo, assim, seguir traficando e causando pavor à comunidade”. Falcão conta que chegou a ter indivíduos com o rosto desfigurando de tanta agressão. “A ideia deles era não ter a polícia perto”, contou.

“É papel do estado fazer justiça”, diz delegado

A ação dos traficantes para barrar os arrombadores e, assim, manter a polícia longe da localidade é justamente algo que não pode ocorrer e jamais ser aceito por moradores. “Esse número de furtos aumentou muito em abril e, então, os traficantes foram até os suspeitos para bater, espancar, torturar e ameaçar. Eles não tinham certeza da autoria e mesmo se tivessem, é papel do estado fazer justiça. Eles foram e fizeram com as próprias mãos”, detalhou Falcão. Com a investigação iniciada por denúncias, a polícia passou a saber tudo que estava ocorrendo na área onde ocorria as ações ilícitas. “Era uma relação de submissão, moradores se submetendo ao gosto deles. O cidadão refém na própria casa para eles traficarem”.

Com a força-tarefa organizada pela polícia, o objetivo é que a comunidade consiga novamente viver em paz. “Por isso, as denúncias são tão importantes”, pondera o delegado.

Polícia Civil mantém sigilo nas denúncias

Na operação, os policiais também apreenderam seis carros, uma moto, celulares, computadores, drogas embaladas para a venda, munições e documentos. A Polícia Civil ainda segue com a investigação e o delegado Falcão reforça o quanto é importante que as denúncias sejam feitas. Para casos em que ocorre o risco de morte da testemunha, o delegado garante o sigilo. “Temos ferramentas para garantir o sigilo completo, a vítima não se expõe e a testemunha não aparece. O tráfico não permite, não dá espaço para denunciar, ele mata. Não queremos que isso ocorra, que uma testemunha seja morta; levá-las ao Judiciário é sentença de morte, facção vai matar sem piedade. Por isso, temos um trabalho feito com cuidado, preservando as pessoas de bem. Apesar de todas as dificuldades, estamos atuando para dar respostas e não permitir esses crimes”.