Presidiários são os líderes do grupo de extermínio da facção, aponta delegado

Kelvin de Paula Ferreira foi morto em Igrejinha com mais de 20 tiros de arma de grosso calibre (Foto: Ronei Silva)

Igrejinha/Região – O grupo de extermínio de uma facção criminosa com berço em Campo Bom e Novo Hamburgo é alvo de uma série de investigações e indiciamentos referentes a homicídios nos vales dos Sinos e do Paranhana. Três integrantes da quadrilha foram mortos e outros quatro presos em confronto com a Brigada Militar no mês passado na Serra. Este confronto ocorreu após o sequestro e execução de um morador de Campo Bom com mais de 20 tiros.

Nesta semana, o grupo de extermínio da facção também se tornou suspeito de outro homícidio cometido em Igrejinha. No dia 27 de setembro, Kelvin de Paula Ferreira, 20 anos, foi sequestrado e morto com mais de duas dezenas de tiros na rua Irena Vilma Breyer, no acesso à Saibreira 2 e próximo à RS-115. O delegado que preside o inquérito, Ivanir Caliari, identificou três mandantes e um quarto comparsa. Agora, com o auxílio de perícias, ele busca confirmar se os matadores de Kelvin estão entre os presos e mortos no confronto da Serra.

Dos mandantes aos executores

Conforme Caliari, dos três mandantes, dois estão recolhidos no presídio. “O terceiro mandante, recebeu liberdade provisória em maio e seguimos tentando capturá-lo”. O quarto envolvido, morador de Canela e preso na semana passada, teve participação na organização do crime. De imediato, o que liga a morte de Kelvin ao grupo de extermínio da facção foi a placa do veículo Logan apreendida na noite das mortes e prisões na Serra. “O Logan apreendido naquela ocasião, foi o mesmo usado para a morte aqui em Igrejinha. Inclusive, a placa flagrada por câmeras de segurança na noite do crime aqui estavam dentro do carro. Temos 100% de certeza de que o Logan é o mesmo”.

POLÍCIA BUSCA POR PROVA PERICIAL

Com os mandantes identificados, agora o delegado Caliari busca provar a autoria dos disparos na execução. “Vamos submeter as munições encontradas no corpo da vítima (Kelvin) e as cápsulas ejetadas a uma confrontação balística com o armamento apreendido (fuzis e pistolas) na Serra. Também haverá análise nos sete celulares apreendidos na Serra, queremos ver se algum apresenta localização do crime de igrejinha. Com estas perícias, saberemos se os mortos ou os presos na Serra foram autores dos disparos do Kelvin”, explica o delegado.

Além dos mandantes, mais indícios ligam a morte de Kelvin ao grupo de extermínio. O modo da execução é semelhante aos demais já somados às fichas criminais do bando: uso de armamento pesado, mais de duas dezenas de disparos com fuzil e submetralhadora e, em quase todos, a vítima foi retirada de um determinado lugar e executada em outro. “Todos os esforços estão sendo para a elucidação total do crime, do mandante aos executores”.

“Comunicação entre delegacias do Sinos e Paranhana e com a BM”

O grupo de extermínio da facção, entre os diferentes integrantes, já somam indiciamentos e acusações de mortes em Campo Bom, Araricá, Vale Real e há outras cidades com inquéritos em andamento. “O que já apuramos, mantendo conversas entre as delegacias e com a Brigada Militar, é de que, embora de diferentes regiões, eles têm a mesma organização criminosa por trás, os mesmos mandantes. Existem diferentes funções dentro da facção e uma delas é obedecer as ordens de execução que vêm de cima. Embora mude algumas lideranças, lá em cima, o principal mandante, é o mesmo, que segue recolhido”.

A elucidação destas execuções tem contado com a troca de informações entre policiais civis e militares. É um grupo violento e com integrantes de diversas cidades. “Destacaria a comunicação entre as delegacias do Sinos e Paranhana e com a Brigada Militar. Isso tem ajudado muito na hora de esclarecer”, disse o delegado Caliari, enfatizando que este é um grupo diferenciado, com conhecimento de armamento pesado. “Não é qualquer pessoa que atira com fuzil 762 e 556 ou submetralhadora, tem que saber funcionamento, e até ter treinamento”.

A maioria das vítimas identificadas que teria este grupo como matadores possui extensa ficha criminal ou envolvimento com o tráfico de drogas, mas também pode agir contra pessoas que tentem denunciar o tráfico. “Por exemplo, coagem pessoas que denunciam o tráfico, não só envolvidos, qualquer uma que se opuser ao tráfico, ao negócio deles, pode ser vítima deles. Então, não digo que só vinculados a mesma facção ou a uma rival podem ser vítimas”.

Matadores da região do Sinos

O grupo especializado nas execuções ordenadas pela facção contam com integrantes de diversas cidades, como a Serra e Vale do Sinos. Dos três mortos em Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, dois tinham vínculo com Campo Bom. Geison Michael da Costa, 29 anos, e Geovane Ribeiro Faria, 39, residiam na cidade e somavam extensa ficha criminal, com homicídios, roubos e tráfico de drogas. Entre os indiciamentos contra Geison, está um dos casos de maior repercussão no ano de 2020. Ele é um dos acusados de matar o casal Adair Brizola da Silva, 31 anos, e Mariel Barbosa, cujo nome artístico era Karuel, no dia 5 de junho, em Araricá. Os dois foram executados com 79 tiros.