Três Coroas – Os médicos pedem mais dias, mais tempo, para aguardar como vai ser. Tudo para nós é um mistério, o dia parece um ano, as horas são torturantes, agonizantes. Com estas frases, Jaqueline Rodrigues Motta relata um pouco de como estão sendo os últimos 11 dias com a mãe Rosana Emilia Rodrigues Motta, de 59 anos, internada em estado grave.
Rosana foi vítima de um gravíssimo acidente de trânsito na noite do dia 23 de julho, na RS-115, em Três Coroas. A colisão envolveu o carro da vítima, um Fiat/Cronos, no qual estavam quatro pessoas (três da mesma família) e o Honda Civic, conduzido por um homem de 30 anos. Conforme investigação do delegado Ivanir Caliari, o responsável pela colisão foi o condutor do Civic, preso na segunda-feira (31). A investigação apontou que antes de dirigir, o motorista preso passou horas consumindo bebida alcoólica em um estabelecimento da cidade.
Além de imagens do local e da comanda, outras duas testemunhas confirmaram a ingestão de álcool e de que ele não estaria em condições de dirigir. Câmeras de monitoramento também flagraram o motorista dirigindo na contramão pela RS-115, no sentido Três Coroas/Igrejinha, momentos antes do acidente.
Crime de trânsito doloso

Por todas as provas colhidas na investigação, o delegado Caliari fará o indiciamento por crime doloso, quando o acusado assume os riscos das consequências da própria atitude. “O caso se trata de homicídio doloso tentado, com a aplicação do chamado dolo eventual, que se dá quando o motorista, mesmo embriagado e visivelmente sem condições psicomotoras, decide dirigir assumindo, assim, o risco de produzir o resultado criminoso, que no presente caso comprometeu por completo a vida da vítima”, detalhou o delegado, após a prisão do acusado no início da semana.
Sonho de ir à Serra
Rosana, o marido e o filho residem em Itapetininga, São Paulo. No momento do acidente, a família fazia o percurso do aeroporto de Porto Alegre para a Serra. Eles realizariam o sonho de conhecer Gramado. A filha Jaqueline, que também mora em São Paulo, assim que soube do acidente embarcou para o Rio Grande do Sul. “Quando eu soube da notícia, peguei o primeiro voo, saí com a roupa do corpo, vim bem rapidinho para cá. Quando soube de algumas notícias, fiquei surpresa que o cara não estava nem preso. Como assim? Houve muito desencontro de informações, a conta não fechava, se o cara que estava trançando as pernas num acidente e não foi pego, então algo de errado não estava certo”, contou ela.
“A justiça está sendo feita”
Ao saber que o motorista estaria alcoolizado e solto, Jaqueline iniciou uma busca por justiça, confeccionando cartazes e criando um perfil no Instagram. “Decidi lutar por conta própria, ninguém quer esse tipo de exposição, mas eu via a necessidade de me fazer ser ouvida”. A prisão do acusado chega como uma resposta para a família. “É um alívio, dá um certo conforto de saber que a justiça está sendo feita. A equipe do delegado de Três Coroas foi fenomenal, todos souberam agir, agiram rápido”.
Com a colisão, Rosane sofreu uma grave lesão cerebral. Ela segue internada na UTI do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Jaqueline e o pai alugaram uma kitnet e mantém a rotina de duas visitas diárias na casa de saúde.