Trabalho do CAPS com ações de valorização da vida segue repercutindo em Rolante

Sede do CAPS decorada em alusão ao setembro amarelo Foto: Cassia Souza/PMR

O mês de setembro passou, mas as ações promovidas pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Vida Nova, de Rolante, em alusão ao setembro amarelo, continuam reverberando no município.
O período é conhecido nacionalmente por mobilizar órgãos de saúde em uma campanha com foco na prevenção ao suicídio e a valorização da vida. Em Rolante, entre as atividades que foram realizadas, vídeos com conteúdos sobre o assunto foram gravados e divulgados, direcionados especialmente aos pais das crianças da cidade. “É o segundo vídeo que esse pediatra [Renato Coelho] faz, também fizemos folder’s e distribuímos. Elaboramos uma cartilha para os pais também. Já para ficar alerta a qualquer sinal para eles procurar uma eventual ajuda”, explica Linara Renck, coordenadora do CAPS.
Os vídeos fazem parte de uma série de ações realizadas no mês, e que foram idealizadas pelo fato de Rolante ter registrado um aumento no número de casos de suicídio. “Tivemos um aumento no número de casos, principalmente do público jovem, de 14 até 25 anos. Foi o público que mais cometeu suicídio nesse último ano. Então pensamos em fazer uma campanha focada em alertar os pais”, conta.
Os números de casos registrados em 2020 não foram divulgados a fim de preservar as famílias das vítimas.

Acompanhar os detalhes é fundamental

Dr. Renato Coelho, em vídeo divulgado para os pais

Renato Coelho, médico pediatra com atuação em desenvolvimento e comportamento infantil, faz um alerta sobre a importância de os pais acompanharem os sinais de seus filhos. “Não deixe de olhar para eles. Preste atenção nos pequenos sinais que eles possam estar nos dizendo que não estão bem. Se eles estão muito isolados. Perderam o interesse de fazer atividades com os amigos. Os cuidados de higiene pessoal estão limitados. O comportamento dele está diferente, está mais agressivo, estão abusando de bebidas ou de cigarro”, alerta “Em uma criança pequena os sinais são ainda mais sutis, ela pode ter comportamentos agressivos, tristeza exagerada. Falar de forma metafórica, sobre o porquê ela não quer mais essa vida”, finaliza.

Psicólogo destacou atitudes e reforçou importância de prestar atenção nos sinais

Com relação ao assunto, o grupo Repercussão conversou com o psicólogo Luiz Antonio Moraes, de Taquara, que destacou atitudes que os pais podem tomar para amenizar essa espécie turbulência mental que pode surgir na cabeça das crianças e jovens, além de reforçar o que o pediatra Renato no sentido de dar importância aos sinais que os filhos apresentam. Veja o comentário completo do psicólogo:

“A ideia de que crianças e adolescentes podem escolher dar fim a sua vida nos deixa perplexos. Como adultos tendemos a pensar que a infância é o paraíso perdido e a adolescência costuma ser idealizada como o período do alvorecer da idade adulta. Quando estamos cheios de planos e energias para iniciar a vida adulta. Esquecemos que a saúde mental das crianças pode ser perturbada por vários fatores. Nas várias etapas da infância somos totalmente dependentes dos adultos, a perda real ou o medo da perda. A experiência da separação da mãe, o medo do abandono. Enfim, são situações que remetem ao sentimento de desamparo, que são muito angustiantes. Os adolescentes vivem um período muito particular do ciclo de vida. Mudanças corporais e cognitivas, indicam que não se é mais criança. São instaladas uma série de conflitos. O adolescente quer proteção, mas não quer ser tratado como criança. Os adolescentes precisam contestar os adultos em busca de afirmação, mas precisam usá-los como modelo de identificação, ocorre uma inundação de hormônios que precipitam a urgência. Desejo sexual, paixões avassaladoras, escolhas, início das preocupações mais sérias com escolhas profissionais. São várias as fontes de angústia. Ambientes excessivamente instáveis com brigas e separações traumáticas dos pais, cobranças excessivas ou falta de atenção e descuido. Falta de reconhecimento dos pares. Ausência da maturidade são fatores que deixam os adolescentes muito vulneráveis. Atenção para os sinais de alerta. É bem importante a gente ficar atento aos sinais de alerta. Então, se a gente percebe falta de esperança. A expressão de intenção suicida. Diminuição de autocuidado. Uso de drogas, alteração no humor, deixar de gostar das coisas que antes gostava, isolamento, diminuição do rendimento escolar, autoagressão. Então se esses sinais forem notados nos seus filhos, é importante adotar alguns cuidados: não julgar, tratar com seriedade, escutar com empatia. Enfim, ficar disponível para as crianças e para os adolescentes. ”