Taquara 136 anos: Contribuição dos negros para o desenvolvimento de Taquara

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Ubiratã Freitas é um apaixonado pela história e dedica seu tempo fora das salas de aula do município para estudar, conhecer e aprofundar suas pesquisas na trajetória dos negros em Taquara, enaltecendo principalmente uma parte da História que os livros não contam. Há mais de 10 anos como professor no município, ele chegou com uma missão que vai além de lecionar.
Prova disso é a sua tese de doutorado, que evidencia a importância do povo africano e afro-brasileiro na região do Vale do Rio do Sinos — Paranhana, onde o trabalho escravo foi explorado, sendo essencial para o desenvolvimento econômico da época, além de contribuir como mão de obra para o comércio constituído por agricultores, criadores de gado, comerciantes e atafoneiros.
Questionado sobre sua intenção em se aprofundar no assunto, Ubiratã é objetivo: valorizar a participação dos africanos e afro-brasileiros. “Tentei retirar esse povo da invisibilidade e mostrar que sim, nós temos o imigrante germânico que foi o colonizador da cidade, mas temos o negro do lado dele também”, cita. “Na época não era uma cidade já constituída, tinha muito mato, muito trabalho a ser feito. Então, os colonizadores chegavam aqui, precisavam de mão de obra e muitos recorriam à compra de africanos e afrodescendentes escravizados. É aí que eu vejo a necessidade de valorizar o trabalho desse povo. Pois, não podemos esquecer que quem carregou o peso disso tudo foi o trabalhador em cativeiro, foi essa pessoa que não queria estar aqui e foi largada para trabalhar como sendo um objeto, tendo um valor específico”, complementa.
No que diz respeito ao início dessa história na cidade, o professor conta que conforme seus estudos, Antônio Borges de Almeida Leães, dono da sesmaria denominada fazenda do Mundo Novo, tinha 15 escravos. Nove foram trazidos de Porto Alegre onde Leães era comerciante e adquiriu mais seis para se estabelecer em Taquara. “Quem ganhava posse da terra na época, tinha que ter bens e produzir na terra, e quem trabalhava eram os escravizados”, explica, fazendo referência a concessão da sesmaria aceita pelo, então, comandante das forças portuguesas na Capitania de São Pedro no Rio Grande do Sul, Dom Diogo de Souza, em 1814.
Passados os anos, em 1845, Tristão Monteiro compra a sesmaria após a morte de Leães e promove a fundação da Colônia do Mundo Novo em 1946. O que dá sequência a história do desenvolvimento de Taquara e do trabalho escravo, que aconteceu até 1887, segundo registros encontrados. Contudo, mesmo com a Lei Áurea, não há a garantia de que a escravidão tenha acabado, pois, a liberdade atestada pelo abolicionismo, na prática, não resolveu os problemas dos afrodescendentes, que em alguns casos se viram obrigados a manter a relação com seus senhores para ter como sobreviver no pós-abolição.