Sintomas e testes de Covid reduzem, mas especialista pede atenção aos municípios

Teste RT-PCR é feito para identificação do vírus | Foto: Henrique Ternus

Região – Essencial para observar a disseminação do novo coronavírus, o número de testes apresenta redução na quantidade de amostras coletadas desde o mês de setembro em todas as cidades da região de cobertura do Grupo Repercussão. A justificativa de algumas secretarias municipais de saúde para esta queda está na menor quantidade de pessoas procurando atendimento nas centrais de síndromes gripais com sintomas de Covid-19.
Entre março, mês que marcou a chegada do vírus no Brasil, e o dia 15 de outubro, as secretarias de saúde dos dez municípios analisados registraram 39.444 testes realizados, entre rápidos e RT-PCR. Campo Bom aparece com a maior quantidade de análises realizadas: 8.686, o que corresponde a aproximadamente 13% da população testada. Já Rolante, com 2.889 testagens efetuadas no município, atinge o maior percentual da população testada, com 13,47% dos aproximadamente 21.453 moradores (segundo estimativa de 2020 do IBGE). Dos mais de 57 mil taquarenses, apenas 4% foram testados (2.313 testes aplicados). Além de Taquara, Nova Hartz e Igrejinha também chamam atenção para os baixos índices de testagem, com apenas 7,78% e 6,6% dos seus cidadãos testados, respectivamente.

Os números informados pelas secretarias e disponíveis nos boletins epidemiológicos diários dos municípios levam em conta somente os testes realizados na rede pública.

Entrevista com Dr. Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia

Jornal Repercussão: Como explicar a redução no número de testes?
Fernando Spilki: A redução no número de testes deve-se, em partes, a uma baixa na demanda. Não podemos dizer que não estão acontecendo casos, pelo contrário, se olharmos a ocupação de UTI’s na região, continua na faixa dos 75%, então você continua tendo atividade do vírus. Nesse panorama que temos agora, a sugestão não seria diminuir o número de testes, mas, sim, de usar os testes de maneira mais estratégica. Ou seja, não testar apenas indivíduos sintomáticos, mas tentar testar possíveis contatos desses indivíduos. Porque então

aproveitaríamos essa oportunidade que temos nesse momento, com um número menor de casos, em relação ao que tivemos durante o pico de julho e início de agosto, para poder aproveitar melhor os testes que têm disponíveis para justamente bloquear o vírus, quarentenar indivíduos que ainda estejam em período pré-sintomático ou que estejam assintomáticos, e assim evitar novos casos, nova disseminação e um novo pico do vírus.

JR: Como fazer a testagem estratégica?
FS: No Brasil, não tenho esperança de que fôssemos atingir os níveis de testagem que seriam aqueles preconizados para testagem em massa, infelizmente. Quando a gente compara os nossos números com outros países, estamos muito longe de fazer isso. Então, qual a alternativa que nos sobra? Principalmente, nesse cenário que a gente uma disseminação um pouco menor do vírus, seria testagem estratégica. Nessa testagem, apareceu indivíduo com sintoma, ele é testado e, principalmente, são testados os contatos com ele. Então, se houve um evento social, por exemplo, que o indivíduo participou, testa os indivíduos que estiveram em contato naquele evento social. Testa os familiares, testa os indivíduos que estão em contato no trabalho. Quarentena todos esses indivíduos. Toma as medidas de controle adequadas, com a recomendação de uso de máscaras e outras medidas de não movimentação, por exemplo, e então, com o número de casos pequeno e melhor conhecido, vamos debelando e erradicando o vírus.

JR: Por que não houve testagem em massa na região e no país?
FS: Talvez em virtude da dificuldade que nós temos com insumos, principalmente com teste molecular para detecção do vírus, que ainda é, no contexto atual, o teste mais adequado (RT-PCR), ou por uma visão muito regulada da testagem em massa nem sempre como a melhor estratégia, a gente não tenha conseguido chegar lá. A gente não conseguiu fazer a testagem em grande quantidade talvez porque, em algum momento, a gente nem tivesse testes o suficiente para todos indivíduos que aparecessem com suspeita. Basta ver a quantidade de testes rápidos que se utilizou no Brasil, por exemplo, que é absolutamente questionável, já que os testes têm uma qualidade que não é tão boa assim, além de que o indivíduo leva muito tempo para desenvolver anticorpos, então muitas vezes ele estava infectado com o vírus e aparecia negativo no teste. Tivemos muita dificuldade no uso dos testes, no direcionamento dos testes, e isso é um dos motivos do nosso péssimo controle da pandemia em nível nacional. Estamos fechando sete meses e agora que vemos um arrefecimento na maioria dos estados, justamente porque, dentre uma série de coisas, a estratégia de uso dos testes em algum momento não foi a mais adequada.

JR: O que é o teste rápido de antígeno?
FS: Essa é uma alternativa importante, porque ela pode ser uma complementação importante em relação a promover o teste, principalmente, dos indivíduos em contato com positivados. A gente sabe que esses testes rápidos talvez tenham um índice de falha um pouco maior do que o PCR, por exemplo. Mas, do ponto de vista populacional, eles poderiam dar uma grande ajuda, muito mais do que os testes baseados na detecção de anticorpos. A detecção do vírus, seja por PCR, seja por estes testes de antígeno, é estrategicamente muito mais adequada.

JR: Neste momento de reaberturas, qual a indicação para a população?
FS: Tem pessoas que têm os sintomas e escolhem ficar em casa e não fazer o teste, e tem o outro lado, pessoas que a qualquer manifestação clínica já estão fazendo teste para Covid-19. A coisa mais importante é realmente buscar atendimento, buscar orientação junto às autoridades de saúde, testar quando for necessário. As flexibilizações estão ocorrendo, mas a recomendação é de que as pessoas continuem fazendo as suas atividades de uma maneira racional. As pessoas continuam indo ao shopping com aquele hábito antigo para passear. Usem esses momentos para efetivamente realizar a compra de coisas que precisem. Vai a família toda para o supermercado, para determinados eventos. Por quê? A pandemia não passou. É importante que cada indivíduo continue mantendo uma atitude de precaução, cada família mantenha uma atitude de precaução, mantenha um certo grau de racionalidade. Precisa ir ao shopping comprar alguma coisa que está faltando? Vá ao shopping, compre seu produto. Agora, o que vemos é aglomeração do lado de fora desses ambientes, as pessoas indo basicamente só para caminhar dentro daquele ambiente, isso não é prudente. Isso sim pode ser algo que pode antecipar uma segunda onda. Quanto mais racional nós formos, mais vamos postergar este processo.