Seu Doca: mais de 40 anos de um legado rico de histórias em Taquara

João Alfredo ainda mora em Taquara, no bairro Centro Foto: Lilian Moraes

Aos 93 anos, ele tem uma memória invejável e conserva lembranças dos mais de 40 trabalhando como mecânico.

João Alfredo Pereira David, popularmente conhecido como “Seu Doca”, conquistou o respeito na área durante os 19 anos em que trabalhou na Ford e as mais de duas décadas exercendo a profissão na sua oficina própria, em Taquara.

Embora tenha passado por outras empresas, é destes dois que ele guarda as maiores lembranças. “Comecei a trabalhar na Ford quando tinha 12 anos e fui até 1945, quando acabou a guerra. Trabalhei em Porto Alegre. Voltei para cá e retornei para a Ford em 1952. Sempre envolvido com mecânica”, contou João.
Questionado sobre como surgiu o gosto pela profissão, Doca relembra: “o chefe da oficina não ensinava nada. Aprendi porque eu perguntava, olhava e assim fui aprendendo tudo o que precisava. Sempre gostei. Depois que eu botei a oficina sabia tudo, não me apertei”, explicou.

A oficina do seu Doca ficava ao lado da Igreja Universal, na Sebastião Amoretti, e por 24 anos foi o endereço mais procurado de quem precisava de um conserto no seu carro ou ônibus, deixando um legado de comprometimento com a profissão na cidade.

Mecânico das famosas carreteiras

Lembranças de mecânico

Seu Doca (segundo da esquerda para a direita) em mais um dia de trabalho Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo tendo parado de trabalhar com mecânica, seu Doca conta que até hoje sabe identificar um possível problema em um carro apenas pelo som que ele faz. E através dessa habilidade, ele lembra uma ocasião em que pôde fazer um conserto em Parobé. “O caminhão estava carregado, parado com 100 sacos de farinha. O chefe mandou eu ir ver. Peguei minhas ferramentas, fui para lá, fiz funcionar e falhava. Esquentei a cabeça com aquilo”, disse. “O dono do caminhão viu que eu tinha ficado com aquela situação na cabeça e me convidou para comer uma carne assada e tomar uma cerveja. Ele colocou assar, trouxe a cerveja, tomei meio copo e respondi que achava que tinha descoberto o problema. Voltei ao trabalho e consertei. Arrumei depois da cervejinha”, contou rindo.