Setor calçadista deve parar de demitir só no segundo semestre, diz presidente da Abicalçados

Natural de Rolante, Haroldo assumiu a presidência da associação em agosto de 2019 Foto: Abicalçados/Divulgação

Região – As dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus têm atingido em cheio o setor coureiro-calçadista, que é responsável por empregar um alto percentual de pessoas no Vale do Paranhana. As notícias de empresas reduzindo o quadro de funcionários se tornaram comum nos últimos dias e o número de demissões deve aumentar nas próximas semanas.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Calçado e Vestuário de Parobé, João Nadir Pires, estima que no município mais de 700 pessoas tenham tido seu contrato de trabalho encerrado.

Em todo o Brasil, a estimativa é de que 26,5 mil postos tenham sido perdidos no setor entre os dias 23 de março e 28 de abril. O estado que mais perdeu postos no período foi São Paulo, com 7,9 mil demissões, 30% do total. Na sequência aparecem Rio Grande do Sul, com 7,6 mil postos perdidos, e Minas Gerais, com a perda de 5 mil postos. Em Santa Catarina, estima-se a perda de 2,5 mil postos no período. Os números são da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, comenta que o quadro é proveniente de uma brusca queda nos pedidos entre março e abril em função da pandemia do novo coronavírus. “Além do varejo estar fechado, portanto sem fazer novos pedidos, tivemos problemas com pagamentos e cancelamentos, inclusive para exportação”, avalia o dirigente, ressaltando que estima-se uma queda de 22,5% no consumo mundial de calçados ao longo de 2020.

Entrevista com Haroldo Ferreira

Jornal Repercussão – Já são muitos empregos perdidos. O setor vai conseguir passar por essa crise? Em quanto tempo deve acontecer a recuperação dos empregos?
Ferreira – O número de desemprego infelizmente deverá aumentar nas próximas semanas, porque o comércio não está aberto em sua plenitude, especialmente no estado de São Paulo, que consome 40% dos produtos brasileiros. Existe um levantamento mostrando que no mundo se consumirá 22% menos calçados, então teremos menos produção. O setor vai conseguir passar por isso. Acreditamos que no segundo semestre o número de demissões deverá se estancar, mas não se sabe quando haverá retomada. Depende do mercado interno e externo. Associações do varejo acreditam que o setor vai estar normalizado só pelo mês de outubro.

Jornal Repercussão – Imaginavam que seria uma crise tão grande? Quando foi possível identificar a seriedade da crise?
Ferreira – Isso aconteceu na semana posterior à Fimec, que ocorreu nos dias 10, 11 e 12 de março. A feira foi bem positiva, mas a partir da segunda-feira da semana posterior é que o cenário de todo o nosso setor mudou. Não se tinha a percepção de que seria tão grande o estrago no Brasil e em outros países. Tudo começou a acontecer na segunda quinzena de março, quando começaram os cancelamentos de pedido. Em janeiro, a projeção era de crescimento neste ano.

Jornal Repercussão – Em um cenário de retomada, quais serão as maiores dificuldades para o setor?
Ferreira – No pós-pandemia serão duas linhas de atuação. Uma será com os programas de exportação, identificando quais feiras internacionais acontecerão no segundo semestre. Isso para o mercado externo. Outra é a retomada do mercado interno, com a questão de qual é a expectativa das pessoas voltarem para o consumo. Todos os setores enfrentam esse problema. Além disso, estamos trabalhando em uma proteção ao mercado nacional contra a invasão de produtos asiáticos. Não podemos deixar ser invadidos por alguém que nos invadiu com um vírus. O produto asiático tem sido um problema nos últimos anos. Essa discussão está na pauta porque eles alteram o câmbio para desovar o excedente de produção deles, que é grande. Então terão preços menores do que os praticados antes da pandemia.