Região gera mais de 2 mil empregos com carteira assinada no mês de outubro

Foto: Divulgação/Agência Brasil

Região – Pelo quarto mês consecutivo, as regiões do Vale do Sinos e Paranhana tiveram saldo positivo na geração de empregos com carteira assinada. Foram criadas 2.076 vagas no mercado de trabalho formal no mês de outubro. Apesar do balanço positivo, os efeitos indigestos causados pela pandemia ainda estão longe de ser superados, tendo em vista que no acumulado do ano houve perda de 3.941 postos de trabalho. Os números disponibilizados pelo Ministério da Economia, através do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), são a diferença entre contratações e demissões.

O desempenho regional pegou carona no embalo estadual e nacional. Em outubro, o RS abriu 27.013 empregos formais e o Brasil criou 394.989 postos de trabalho. De acordo com o Ministério da Economia, o número nacional é o maior registrado na série histórica do Caged, que começou em 1992.

O pior desempenho no acumulado do ano é de Três Coroas, que amarga a perda de 1.059 vagas. O economista Carlos Águedo Paiva, doutor em Economia e professor do Mestrado em Desenvolvimento Regional da Faccat, pontua que o município tem sua dinâmica ligada à região das Hortênsias, que, por sua vez, sofreu fortes impactos pela queda do turismo.

Dos cinco setores pesquisados pelo Caged, a indústria é o que teve o melhor comportamento na região, com a geração de 1.726 empregos formais.

Lideranças dos municípios comentam os números

Marco Cassel, secretário de Indústria, Comércio e Turismo de Sapiranga
“Mantivemos o incentivo às empresas calçadistas de Sapiranga nesse momento de crise. Estamos muito felizes com o resultado, em especial, da Zero Grau, em Gramado. A prefeitura vem há anos investindo nesses empreendedores que geram emprego e renda para o nosso município. Estamos nos preparando para a Couromoda, em São Paulo. Sapiranga não pode parar.”

Julio Cavalheiro, presidente do Sindicato dos Sapateiros de Sapiranga, Nova Hartz e Araricá
“Estamos entrando em um período de férias nas fábricas de calçados. Acredito que a partir de 1º de fevereiro de 2021 em diante é que vamos ter dados mais concretos sobre a retomada. Quem precisava contratar já contratou. Estávamos com uma expectativa grande no início de 2020, que acabou frustrada pela pandemia.”

Henrique Scholz, secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Campo Bom
“Com a pandemia, ocorreram muitas demissões, mas essa recuperação está sendo rápida porque temos empresas sólidas e organizadas na cidade que usaram recursos federais, regionais e municipais para manter os postos de trabalho. A nossa projeção é zerar o déficit causado pela pandemia e iniciar 2021 com um saldo positivo.”

João Nadir Pires, presidente do Sindicato dos Sapateiros de Parobé.
“Nós não podemos deixar de ser otimistas com os dados, mas estamos cautelosos. A gente percebeu que em Parobé teve abertura de algumas vagas, e pelo cenário que estamos vivendo, é bem melhor 50 pessoas conseguirem emprego ao invés de perder. Mas as contratações estão muito tímidas. É muito preocupante toda essa situação.”

Diferenças muito grandes, mas também elementos em comum

Ao avaliar os dados do Caged sobre a região, o professor pondera que há diferenças muito grandes entre os municípios, mas também há pontos em comum. “Os municípios turísticos (Gramado, Canela, Capão da Canoa, Torres) e as regiões turísticas (Hortênsias e Litoral) foram as que mais sofreram. No caso do litoral, este é um pouco o padrão de sua sazonalidade. Não houve inflexão grave. Pelo contrário. Acho que ainda há muita gente curtindo a quarentena na praia. Mas as Hortênsias têm uma alta no inverno. E ela não ocorreu. No Vale “Calçadista”— que inclui Parobé e vai até São Leopoldo — a dinâmica também é bastante diferenciada”, analisa.

Rolante e Riozinho

Paiva salienta que, via de regra, os municípios menores e de base essencialmente agrícola-rural vivenciaram uma queda menos pronunciada do emprego. “Não obstante, no Paranhana, dois municípios com estas características sofreram significativa perda. Eles são pequenos, mas em termos percentuais, a perda de empregos formais foi elevadíssima: Riozinho e Rolante. Riozinho chegou a acumular 22% negativo de emprego em junho de 2020.”.

Entrevista com Carlos Águedo Paiva, doutor em economia

Jornal Repercussão: Olhando o panorama regional das cidades, a gente tem uma média que aponta melhora. Dá para dizer que estamos nos recuperando? O que é importante pontuar?
Carlos Paiva: “Em primeiro lugar, a gente tem que entender que o Caged é uma informação parcial. Só estamos pegando emprego formal. Está havendo uma recuperação significativa do emprego formal. Agora, ainda há um desemprego no setor informal muito elevado. Desses dados nós não temos informações por município. Quem nos dá informação do desemprego global é a PNAD e ela tem representatividade apenas para o estado e para a região metropolitana. O que a gente sabe é que o informal está recuperando as ocupações, mas com um pouco menos de velocidade. A taxa de desemprego é medida em função do número de pessoas que está buscando emprego. Neste momento, mesmo havendo recuperação do emprego, a taxa de desemprego está subindo porque as pessoas estão procurando mais. São muitas dimensões, então não podemos avaliar somente pelo Caged. Dizer que houve recuperação em “V” é muito forte neste momento. Não dá para a gente afirmar com os dados que nós temos. Sobre a questão mais específica da região, a primeira coisa é a seguinte: o desempenho das cidades foi muito diferenciado. Precisamos olhar para o Quociente Local (QL), que compara a situação da variação em relação à região maior. Por exemplo, quando pego um Corede, comparo com o que aconteceu no RS; quando pego um município, faço comparação com aquilo que aconteceu na região dele. Campo Bom e Parobé estão relativamente bem. O QL de Parobé teve uma perda percentual de emprego menor que os outros municípios do Paranhana. Taquara também está bem. Esses são municípios de base calçadista, então, fiz questão de analisar como estava o perfil do setor de calçados, e ele teve uma recuperação. Teve queda porque é um setor altamente formalizado, então era de se esperar que durante o processo de pandemia tivesse queda acentuada, mas ele veio se recuperando. Não se pode considerar apenas a produção de calçados como parte da indústria calçadista, todo o setor de embalagens, química, são setores que vem se recuperando legal. Quem realmente impactou foi turismo. Hortênsias foi muito impactada e continua impactada, e Três Coroas também por causa disso.

JR: Três Coroas teve o pior desempenho do Paranhana por ter a dinâmica ligada à região das Hortênsias. Então, podemos afirmar que o turismo tem impacto muito forte na cidade, mesmo ela não sendo considerada cidade turística?
CP: Sem sombra de dúvida. Como a rota para Canela e Gramado, a partir de Porto Alegre, passa por Taquara, Igrejinha e Três Coroas, tu já tem ali todo um setor que não parece turístico, mas é. Aqueles outlets, que vem desde Novo Hamburgo e aqui também existem, com um atrativo de café colonial ao lado, etc. Estes territórios se ressentem, sim, se o pessoal não vai mais para Canela e Gramado. Eles podem ir comprar sapato em Novo Hamburgo, mas eles não vão ir até Igrejinha.

Tem essa dinâmica que não parece turística, mas é. Se depende muito desse comprador de estrada. Igrejinha ter ficado abaixo da média do desempenho da região também tem a ver com a questão do turismo.