Professor analisa momento e ações adotadas contra o coronavírus

Professor da Universidade Feevale com especialização em segurança e gestão pública, Charles Kieling Foto: Reprodução/FEEVALE

Fábio Radke
da Região

A importância de medidas que estão sendo tomadas pelo poder público, como o decreto de calamidade pública por parte do Estado, assim como ações por parte da municipalidade, são analisadas pelo professor da Universidade Feevale com especialização em segurança e gestão pública, Charles Kieling. Ele reforça ainda a importância dos cuidados nesse período que antecede as estações que registram quedas nas temperaturas e auxiliam a manutenção e proliferação do corona vírus (COVID-19).

Os reflexos na economia, os riscos para a saúde pública e os exemplos registrados na Itália e que podem ser evitados em nosso País aparecem na entrevista a seguir. O professor da Universidade Feevale, especialista em segurança e gestão pública, Charles Kieling, entende como assertivo o decreto de situação de calamidade do Governo do Estado nesse período. “É uma ação assertiva que o Governo está fazendo, obviamente, que é preventiva, mas se as coisas tiverem evidências de uma situação diferenciada serão necessários mais pontos de referência para identificar mais pessoas contaminadas”, cita.

 

“Não entramos em um cenário mais delicado na área da saúde”

Entrevista, professor Charles Kieling

Decisão certa quanto a decreto
“Por outro lado, quanto à repercussão social e econômica, a sociedade não vive se não tiver a questão econômica funcionando”, avalia. O diagnóstico dos especialistas aponta impactos diretos na economia e que a retomada não será tão breve. “O segundo semestre começará com dificuldades apesar do trabalho de contenção dos mercados e abertura de linhas de crédito. A chegada da Páscoa terá um duro impacto e provavelmente aumentará o número de desempregados e de empresas pedindo falência ou entrando em dificuldades financeiras. Se tudo correr bem, somente a partir de 2021 devemos ter uma retomada”, acrescenta.

Cenário mais delicado
O fator clima também pode ser determinante no que diz respeito à proliferação do novo coronavírus. Com a chegada do outono e posteriormente o inverno, os gaúchos precisam redobrar os cuidados. “Nós no Brasil, aqui no Rio Grande do Sul especialmente, ainda não entramos em um cenário mais delicado na área da saúde. Agora vamos entrar no período de outono, com possibilidade do vírus se espalhar mais e enraizar na sociedade. É a partir desse período que enxergamos uma perda do controle das questões da contaminação. O próprio ambiente passa a favorecer a sobrevivência e alastramento do vírus”, avalia o professor. Ele reforça que a partir de abril inicia um período  de disseminação maior aqui no estado. “Começa a ter uma disseminação aqui com mais pessoas infectadas, não no número de mortos, mas o alastramento começa a ganhar folego e a impactar na economia. Vamos chegar a um alto pico em maio”, disse.

Dificuldades na saúde
O especialista avalia ainda que existem hoje carências na saúde pública. “Nós não temos equipamentos adequados para atender uma boa parte da demanda dessa área. Por mais que se diga para as pessoas ficarem em casa, as pessoas contaminadas são um risco ainda para nós por que não temos equipamentos de controle como outros países, como equipamentos de termômetro que vão acompanhando e sistemas
de monitoramento”, lamenta. Cuidados especiais são importantes e necessários a fim de evitar que o vírus ganhe o status de comunitário em determinadas regiões. “Não há como acompanhar quem faz serviço em casa, quem trabalha e vai visitar a família e que podem ser fontes de contaminação. E as próprias pessoas da família é que podem ajudar a propagar. Já existe um descontrole que é um passo para se tornar um vírus comunitário”, acrescenta alertando que a sociedade ainda não está aderindo de forma eficaz e suficiente.

“Jovens foram os principais vetores na Itália”
Em contato com professores de universidades parceiras da Itália, o especialista afirma que em solo italiano, o principal vetor de contaminação naquele país foram os jovens. “Justamente por terem mais saúde, acabavam indo ao mercado, no encontro com um amigo, eles acabaram levando o vírus para os mais idosos e seus familiares. Os jovens mais espalharam a contaminação na Itália. E se achando os valentes acabaram sendo os vetores da contaminação. Se tornaram vetores comunitários, por isso o descontrole, atingindo pessoas já com algum problema causando todo esse colapso”, frisa. Kieling ainda faz um alerta para que determinadas situações não gerem uma proporção geométrica de multiplicação. “Basta quatro ou cinco vetores que contaminam os outros para uma multiplicação em grande escala atingindo os mais vulneráveis. Isso leva a crer em cenários difíceis. E ainda temos os idosos buscando a vacina para a gripe e um descuido nesse processo pode desenfrear um descontrole de contaminações. Basta acontecer em uma comunidade para que o descontrole seja geral”, alerta.

Menor impacto social do que teve na Itália
Abaixo fake news

A partir de adoção de medidas neste momento no Brasil é possível acreditar que não teremos o mesmo impacto social em termos de mortes do que aconteceu na Itália. “O brasileiro tomando as medidas preventivas de controle os impactos serão muito menores. De qualquer sorte, qualquer vida perdida em função disso é uma tragédia. Mas aqui a expectativa não é de muita morte, o maior impacto será de economia”, disse. O professor ressalta também a importância do trabalho dos veículos de comunicação. “Inclusive controlando Fake News e mídias que causam pânico e inventam bobagens como água milagrosa e coisas parecidas. Os veículos de comunicação de massa estão sendo o melhor remédio para a saúde pública. São os vetores da saúde pública por que passam por eles as principais informações, orientações e instruções de medidas de controle”, ressalta. Kieling reforça ainda a importância dos profissionais de imprensa e suas empresas também tem em um momento futuro. “Os próprios veículos devem desempenhar papel importante na readequação da economia”, pontua.

DEVERES E RESPONSABILIDADE

O que diferencia de outras crises são os veículos de comunicação que na década de 30 não existiam. Nesse momento diferenciado, toda a dinâmica do que está acontecendo e como se comportar de forma assertiva para ajudar a sociedade, passa por eles. Cada um tem deveres e responsabilidades sociais, o Estado vem contribuindo nós ainda não temos equipamentos especializados para medição em grande escala pode ser um vetor caso a população não assuma o que tem que fazer”, conclui.