Pesquisa auxiliará na definição de políticas públicas para olivicultura no Estado

No RS há 5.986 hectares de olivais, abrangendo 110 municípios, 321 produtores, 17 fábricas de azeites e 70 marcas - Foto: Fernando Dias / Ascom Seapi

Por Darlene Silveira/ Seapi

Os resultados de uma pesquisa divulgados recentemente podem auxiliar no direcionamento de políticas públicas e de pesquisas agronômicas para que o cultivo da oliveira seja economicamente viável no Estado. As informações constam no documento “Caracterização de olivais no Rio Grande do Sul: aspectos socioeconômicos, fitossanitários, de nutrição e fertilidade dos solos”, elaborado pelos pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi).

A finalidade do estudo, feito em parceria com a EmaterRS-Ascar, é realizar a caracterização de propriedades e olivais localizados em diferentes regiões produtoras do Estado, a caracterização do perfil dos produtores e a obtenção de dados sobre aspectos fitotécnicos da cultura.

Segundo a bióloga Andréia Mara Rotta de Oliveira, coordenadora do estudo, a circular também sugere transferência de tecnologia, principalmente em relação às questões fitossanitárias, de nutrição e fertilidade do solo dos olivais. “Ampliar nosso conhecimento sobre estes fatores é fundamental para a sustentabilidade deste sistema de produção”, explica.

Hoje o Rio Grande do Sul se destaca por abrigar a maior área plantada de oliveira no cenário nacional, o que faz do Estado o principal produtor de azeite do Brasil. “Considerando as características das propriedades analisadas nesta pesquisa, constatou-se que a oliveira vem ganhando espaço e se desenvolvendo em pequenas propriedades como uma cultura alternativa de diversificação de cultivos e incremento da fonte de renda, principalmente na utilização das azeitonas para a produção de azeite de oliva”, revela Andréia.

A destinação das azeitonas produzidas em solo gaúcho para conserva ainda não é uma atividade significativa entre os produtores pesquisados. “Possivelmente, pela menor quantidade de cultivares plantadas consideradas aptas para produção de azeitonas de mesa e, também, por questões econômicas, uma vez que o preço de venda do litro de azeite de oliva tem se mostrado lucrativo para o produtor”, acrescenta a bióloga.

Principais dificuldades

Em relação às principais dificuldades apontadas pelos produtores no cultivo da oliveira, a falta de mão de obra especializada e a carência de pesquisas que gerem informações para o cultivo da oliveira nas condições do Rio Grande do Sul foram as que tiveram maior destaque. No que se refere aos aspectos fitossanitários, destacam-se as dificuldades enfrentadas para o controle de formigas, lagartas, antracnose, repilo e emplomado.

“Embora o número de produtos registrados para a oliveira no Brasil tenha aumentado nos últimos anos, o suporte fitossanitário para a cultura ainda é insuficiente”, comenta Andréia. Nesse sentido, foi identificada a oportunidade para o desenvolvimento de pesquisas utilizando o controle biológico de pragas e doenças na produção integrada da oliveira, possibilitando a produção de azeitonas e azeites com menor uso de agrotóxicos e com abordagens de manejo sustentáveis, de menor impacto ambiental e para a saúde humana.

De acordo com o estudo, os maiores problemas observados quanto à fertilidade do solo dos olivais foram a acidez na camada de 20 a 40 centímetros, mostrando que a calagem não foi eficiente para atingir a camada mais profunda, e os teores de boro abaixo do necessário para a oliveira. “Portanto, é importante que seja dada atenção especial à correção da acidez do solo em profundidade, principalmente no momento da instalação de novos olivais, pois é o momento em que o preparo do solo é executado”, destaca a bióloga.

Além disso, o manejo do nitrogênio também deve ser realizado de forma que seja evitada possível deficiência nutricional nas plantas, bem como a ocorrência de desenvolvimento vegetativo excessivo, em detrimento da produtividade.

O estudo

A pesquisa foi realizada em parceria com a Emater/RS-Ascar entre 2020 e 2021, com 53 produtores rurais. Os olivais foram selecionados pela instituição, utilizando como critério os municípios com maior área plantada e maior número de produtores de oliveira. O levantamento das informações para a determinação do perfil dos produtores, da caracterização socioeconômica das propriedades, das principais cultivares utilizadas, do sistema de manejo adotado e das principais pragas e doenças observadas nos olivais foi realizado pelos técnicos extensionistas da Emater. Na ocasião das visitas às propriedades, os técnicos também coletaram amostras da parte aérea das plantas com sintomas de pragas e doenças para diagnóstico fitossanitário e amostras de solo e folhas para análises da fertilidade e nutrição dos olivais.

A maioria dos olivais tem até 5 hectares (51%), sendo, entretanto, importante a quantidade de produtores com olivais maiores que 10 hecatres (24%). As cultivares Arbequina, Arbosana, Picual e Manzanilla, de origem espanhola; a cultivar Koroneiki, de origem grega; e a Galega, de origem italiana, apresentam aptidão industrial para a produção de azeite. A Frantoio, a Coratina, a Ascolana, a Grappolo e a Leccino, de origem italiana, são aptas tanto para a produção de azeite, quanto para a produção de azeitonas em conserva.

Em relação às doenças, os produtores entrevistados apontaram a antracnose como a principal doença que incide sobre a oliveira, seguida do repilo, também conhecido como “olho de pavão”. Quanto aos impactos econômicos gerados pela ocorrência de pragas e doenças de maior incidência que afetam a oliveira no Estado, as perdas na produtividade, os prejuízos na qualidade das azeitonas e o aumento dos investimentos em insumos para controle foram os fatores mais apontados. Os produtores destacaram os ataques por lagartas e formigas e a ocorrência da antracnose como os principais responsáveis pelas perdas na produtividade e prejuízos na qualidade das azeitonas.

História e dados

No Brasil, a olivicultura foi introduzida pelos portugueses por volta de 1800 e cultivada nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O desenvolvimento da cultura com objetivo comercial voltou a ser impulsionado nos últimos dez anos, incentivado pelo consumo crescente de azeites e azeitonas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), a área plantada no país está em torno de 10 mil hectares. O Rio Grande do Sul atualmente é o estado com maior área plantada, com 5.986 hectares, abrangendo 110 municípios, 321 produtores, 17 fábricas de azeites e 70 marcas. Na safra 2021/2022, o Estado produziu 448 mil litros de azeite.

Embora o aumento da produção tenha sido expressivo nos últimos anos, o Brasil ainda é dependente desse produto e, entre 2019 e 2020, importou 104.179 toneladas de azeite de oliva. A área plantada com oliveira no RS tem crescido a cada ano, tendo aumentado em torno de 58% em relação a 2017, quando a área estimada foi de 3.464,6 hectares. Embora a oliveira tenha se adaptado bem às condições edafoclimáticas (características do solo e do clima) do RS, com a expansão da área plantada, cresce também a necessidade de ampliar o conhecimento sobre a cultura, pois ainda não há recomendações técnicas para o desenvolvimento da olivicultura no Estado.