Os três dias em que as esteiras pararam em Parobé

Durante três dias os trabalhadores de Parobé paralisaram a produção de calçados buscando salários melhores. Fotos: Divulgação

Parobé – A falta de uma reposição salarial que acompanhasse a alta inflação de 1990 foi o que motivou o maior movimento da história dos trabalhadores da indústria em Parobé. Em maio daquele ano, uma greve da ampla maioria dos funcionários das fábricas fez com que nada se produzisse durante três dias nas empresas do município.

Quem participou do momento histórico foi a hoje sindicalista Marilei da Silva, de 56 anos, que na época trabalhava no setor de montagem da Calçados Simpatia. Ela relembra que após as negociações entre o Sindicato dos Sapateiros de Parobé e os patrões, o aumento proposto pelas indústrias foi de 5%, enquanto que o pedido era de que houvesse majoração de 84% nos salários. “Tentaram determinar que seriam os 5% de aumento, mas foi aí que o pessoal começou a se revoltar. Todos combinamos de no fim do dia ir na assembleia do sindicato que teria na praça. No horário da saída, vimos uma multidão indo para lá, foi quando sentimos que iria pegar fogo”, conta.

Neste período, o município era um dos principais polos da indústria de calçados, com uma vasta oferta de empregos em grandes empresas como a Calçados Simpatia, Calçados Starsax, Calçados Bibi e a principal, Calçados Azaléia.

Um dia após a assembleia, as esteiras amanheceram sem poder girar pela falta de funcionários. “Então os patrões começaram a se assustar. Passamos três dias e três noites sem dormir. A proposta melhorou para 56%. Com esse resultado final a gente saiu numa grande vitória”, relembra.

Depois de 31 anos, a realidade do setor ainda é de dificuldades
Para Marilei, que hoje integra a diretoria do sindicato de Parobé, a demanda da categoria sempre serão as causas econômicas. “O salário sempre está em desvantagem com relação à inflação. Historicamente sempre se fechava o dissídio em 2% ou 3% a mais que a inflação, mas hoje não dá nem isso”.

O atual presidente do Sindicato dos Sapateiros de Parobé, João Nadir Pires, pontua que as negociações têm sido cada vez mais prejudicadas. “Temos livre negociação, mas a inflação divulgada pelo governo é muito baixa. E esses dois últimos anos tem sido de dificuldades até mesmo para conseguir a inflação”, diz.

A entidade sindicalista foi fundada na cidade em janeiro de 1985. Almerindo Nunes foi o cidadão que, inspirado pelo seu irmão Olívio Nunes, presidente do Sindicato dos Sapateiros de Campo Bom, incitou a formação de um Sindicato da categoria. Inicialmente, a entidade abriu suas portas na esquina da Rua Rio Grande do Sul com a Rua Odorico Mosmann. A primeira posse ocorreu em 03 de junho de 1985. Nesse período, o Sindicato contava com 2600 associados que já recebiam atendimento médico, odontológico e jurídico.