“O pessoal critica a RS-239, mas ela é um ser inanimado”, afirma sargento da PRE

Rodovia é alvo frequente de críticas Foto: Matheus de Oliveira

Região – As estatísticas do início de 2021 na RS-239 são preocupantes. Em 41 dias do ano, foram 40 acidentes registrados na rodovia, segundo dados do Comando Rodoviário da Brigada Militar. Além disso, foram pelo menos nove pessoas que morreram nas ocorrências, entre vítimas de graves colisões e atropelamentos. A situação, inclusive, mobilizou comunidade e classe política em um recente protesto, que pediu por mais segurança na rodovia, fazendo um alerta aos motoristas e com demandas à EGR e Daer.

Mas nem sempre os problemas da rodovia são os causadores dos sinistros. Segundo o comandante do Pelotão Rodoviário da BM, sargento Dalvo Rocha, a maior parte dos envolvidos nos acidentes ocorridos neste ano foram os principais responsáveis pelos danos. Falta de cinto de segurança, velocidade acima do limite, uso de celular ao volante ou dirigir alcoolizado são os principais motivos para a ocorrência dos acidentes. Em entrevista ao Grupo Repercussão, que você confere ao lado, o sargento fala sobre a causa dos acidentes, o que está provocando a elevação nos índices e quais cuidados os motoristas devem ter ao trafegar na rodovia estadual.

ENTREVISTA: Sargento Dalvo Tadeu Rocha, comandante do Pelotão Rodoviário

Jornal Repercussão: Qual a avaliação do número alto de acidentes em 2021 na RS-239?

Sargento Rocha: Nos acostumamos que, de 2015 para cá, quando recebemos equipamentos para fiscalizar velocidade mais eficientes, a gente percebeu uma queda bem grande na quantidade de acidentes com morte. Antes disso, nesse trecho da RS-239, entre a BR-116 até o km 48 em Parobé, tínhamos uma média de 30 acidentes com morte por ano. Esse número decresceu bastante, chegamos a ter 14 em um ano, e agora subiu de novo. Mas as pessoas envolvidas nos acidentes que aconteceram neste ano, geralmente, contribuíram para que o acidente ocorresse da forma que aconteceu. Se estivessem na BR-116 ou na Free-way, agindo daquela forma, provavelmente o acidente iria ocorrer também.

JR: De quem é a responsabilidade pelos acidentes na rodovia?

SR: Existe um mal hábito na sociedade que as pessoas tendem a não cumprir regras. É lamentável, parece que é bonito, não fazer o que é previsto, o que é certo. Qual cidadão adulto, com 18 anos, tira a carteira, passa na escolinha, sabe ler e escrever, tem acesso à internet, pode dizer que não sabe que o cinto de segurança protege a vida? E, no entanto, se tu parares no perímetro urbano ou mesmo na rodovia, vai observar as pessoas andando sem. É uma coisa que protege a tua vida, que vai te salvar num eventual sinistro, e você descumpre. Não faz sentido. Fica difícil da polícia trabalhar, porque temos que trabalhar com a exceção e não com a regra. Quantos assaltantes de banco temos na sociedade? Vamos dizer que aqui no Vale do Sinos tenha uma meia dúzia. Esses seis são exceção à regra na sociedade, por isso a Polícia Civil e a Brigada Militar, com a parte de inteligência, conseguem monitorar esses indivíduos e, quando cometem delitos, são presos. Agora, se 80% da população fosse ladrão de banco, não tem como a polícia cuidar. Aí tu vais para a questão do trânsito e vê que 80% das pessoas, sendo otimista, cometem infrações de trânsito. Dirigem alcoolizadas, utilizando celular, não levam a sério. Existe também o mal hábito de culpar alguma coisa. O pessoal fala da RS-239, mas ela é um ser inanimado. Ela não levanta um pedaço de pau e te bate na cabeça, não faz nada, está paradinha. Então não é a rodovia, são os usuários, as pessoas, os motoristas, os pedestres, os carroceiros, os ciclistas, enfim.

“O pessoal fala da RS-239, mas ela é um ser inanimado. Ela não levanta um pedaço de pau e te bate na cabeça, não faz nada, está paradinha.”

JR: Qual a posição da PRE sobre as lombadas?

SR: Temos uma posição do Daer de que os controladores serão recolocados, e nós não somos contra, mas entendo ser uma medida redundante. Foi criada uma passarela de pedestre, que foi pedida pela comunidade e pela classe política, está lá. Independentemente da posição em que foi colocada, foi gasto dinheiro público para implantar um equipamento que atendesse à necessidade da comunidade. Está construída, então ela tem que ser usada. Poderia ser feito nos moldes do que ocorre na BR-116, por exemplo, onde tem a passarela e embaixo tem uma mureta longitudinal às pistas da rodovia, impedindo o pedestre de passar por ali, o que obriga as pessoas a caminharem um pouco mais e passar pela passarela de forma segura. Vai perder de 5 a 10 minutos em cada caminhada? Talvez perca, mas a vida dele acho que vale cinco ou dez minutos, ou que seja 15.

JR: Que cuidados os motoristas devem ter ao trafegar na RS-239?

SR: Existe uma coisa interessante que os condutores da RS-239 precisam ter em mente. Como 90% dos envolvidos dos acidentes são pessoas locais, de Sapiranga, Campo Bom, Araricá, Parobé, Novo Hamburgo, enfim, o trânsito que flui na rodovia é local. Não é a mesma situação que ir para a praia, que há uma preparação psicológica para pegar a rodovia, porque sabe que vai andar a 100km/h, sabe que vai passar por rodovia estadual e federal. Você já sabe do roteiro, prepara a cadeirinha da criança, todos de cinto, e vai embora. Com os usuários aqui da RS-239, a gente observa que eles têm o hábito de ainda imaginar que estão no perímetro urbano. Você está no centro de Sapiranga e decide ir ao shopping em Novo Hamburgo, por exemplo. Aí você sai e pega a rodovia como se ainda estivesse no perímetro urbano, não deixa de usar o celular, não coloca a cadeirinha do bebê, não usa o cinto. São circunstâncias diferentes, porque, apesar de ser um caminho curto, você sai de uma rua de 30 a 40km/h, dentro da cidade, para uma rodovia que as pessoas andam entre 80 e 100km/h. No perímetro urbano não tem caminhão com 50 toneladas, na rodovia você encontra. E esse caminhão precisa de 150m para parar, se precisar frear. Precisa ter um cuidado a mais na rodovia. Quero que as pessoas adotem a postura de saber que estão andando numa rodovia, que tem trânsito diferente. Com maior velocidade, mais veículos, mais pesados. Vale para o motorista, motociclista, ciclista, pedestre e caminhoneiro.