Nova nota de R$ 200: sinal de que o país viverá novamente o assombro da hiperinflação?

Notas de real disponíveis atualmente Foto: Divulgação

País – Após passar 18 anos sem emitir uma nova cédula, o Banco Central (BC) anunciou recentemente o lançamento da nota de R$ 200. O Conselho Monetário Nacional (CNM) aprovou, no dia 29 de julho, a criação da nova integrante da família do real, que será estampada pelo lobo-guará e deverá circular no fim de agosto.

A impressão de notas mais altas relembra um passado não tão distante e assombroso, vivido por milhões de brasileiros. Os efeitos da hiperinflação, no período entre 1980 e 1994, levaram o País a lançar novas cédulas, como a de 500 mil cruzeiros, para compensar a queda do poder de compra da moeda. O cenário, entretanto, era diferente do atual.

“Eles estão apenas dando um meio de pagamento que recupera a inflação passada. Não tem nada a ver com prognósticos de inflação no futuro e nem vai estimular isso. Na verdade, nós estamos correndo o risco no Brasil de, pela primeira vez, termos deflação”, avalia Carlos Águedo Paiva, doutor em Economia e professor do Mestrado em Desenvolvimento Regional da Faccat. Desde o lançamento do Plano Real, a inflação acumulada foi de 526,54%, conforme o economista. Ou seja, o valor equivalente à nota de R$ 100 em sua criação, hoje, seria uma cédula de mais de R$ 600.

Ação é preventiva frente à chance de aumento na demanda por papel moeda

Entre os motivos elencados pela direção do BC para o lançamento da nova cédula está o aumento na demanda por dinheiro em espécie que se verificou nos últimos meses. O entesouramento, que ocorre quando as notas deixam de circular, aumentou em R$ 61 bilhões entre março e julho, conforme o BC. Para Paiva, as justificativas são reais. “No momento em que estamos vivendo, nunca se sabe quando vai ter um lockdown. Os bancos mudaram horários de funcionamento e os caixas eletrônicos estão com acesso mais difícil, com filas e protocolos de higiene. As pessoas tem medo de deixar depositado e eventualmente não ter como tirar, então a demanda por dinheiro em casa aumenta”, pontua.

Escolha pelo lobo-guará
O animal escolhido para ilustrar a nova cédula está entre as 1.173 espécies da fauna ameaçadas de extinção. O lobo-guará, canídeo que se desenvolveu na América do Sul, está presente no centro do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia. A escolha se deu por conta de uma pesquisa realizada em 2001 pelo BC, que perguntou quais deveriam ser os animais em extinção da fauna brasileira a aparecer nas cédulas. O mais votado foi a tartaruga marinha, escolhida para ilustrar a nota de R$ 2. A segunda posição ficou com o mico-leão dourado, o qual foi utilizado na nota de R$ 20. A terceira posição, por fim, ficou com o lobo-guará, que estará presente nas novas notas de R$ 200.

A estimativa é que no Brasil vivam cerca de 24 mil lobos-guará, com maior concentração no Cerrado.

Expectativas

Sobre a possibilidade da nova cédula trazer insegurança ao mercado financeiro mediante o fantasma da hiperinflação, Paiva explica que se as pessoas acreditam que algo vai acontecer, elas agem de tal maneira que acaba acontecendo. “É um princípio da economia”, define. No entanto, o economista ressalta que são os agentes economicamente mais poderosos que movimentam a inflação, como investidores e bancos. “As expectativas que influenciam são as de quem tem muito dinheiro. Estas pessoas acompanham diariamente qual é a taxa de inflação no Brasil. E nós estamos tendo recuo. As expectativas, hoje, são de deflação”, ressalta. Paiva observa que a deflação não é positiva. “Quando se tem deflação, significa que os juros reais são maiores do que os nominais”, esclarece.