Museu de Arqueologia do RS não conta histórias há 12 anos

Prédio de mais de mil metros quadrados conserva um acervo de milhões de peças. Foto: Matheus de Oliveira

Taquara – Uma trajetória de dificuldades. Um local que deixou de contar histórias por ter sua própria história interrompida pela ação do tempo. Esse é o retrato do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (Marsul), que está fechado ao público geral desde 2008 por problemas técnicos e estruturais. A reabertura depende da captação de R$ 5 milhões.

O historiador e diretor do museu, Antônio Carlos Soares, explica que os valores serão destinados para duas ações distintas. A primeira é a realização do inventário das milhões de peças que integram o acervo do Marsul – trabalho que precisa do auxílio de museólogos, arquivistas, historiadores, entre outros profissionais. A outra é a requalificação dos espaços físicos do prédio, especialmente da galeria de exposições. Apesar da aprovação pelos critérios da Lei Rouanet para receber recursos através da Lei de Incentivo à Cultura, nenhum valor foi captado até o momento. “Empresas que estavam negociando para dar esse aporte acabaram direcionando as verbas para combater os efeitos da Covid-19”, lamenta o diretor. A readequação na infraestrutura e realização do inventário do acervo são condições impostas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para reabertura do Marsul.

Ossada revela parte do passado na região
Entre as mais de três milhões de peças que integram o acervo do museu, o diretor Antônio Carlos Soares chama a atenção para uma ossada encontrada em 1969 pelo arqueólogo Pedro Mentz. Em uma gruta, localizada em Capela de Santana, o pesquisador encontrou o sepultamento de uma mulher com os braços estendidos sobre um adolescente e uma criança. “A datação por Carbono foi feita por um laboratório em Washington e apontou para 1320 d.C. As conclusões do professor Ribeiro foram que o sítio foi habitado por grupos indígenas ceramistas pré-coloniais, denominados na arqueologia como Tradição Taquara. Produziam uma cerâmica bem característica e marcaram a paisagem com suas casas semi-subterrâneas”, explica. No local ainda foram encontradas artes rupestres, que posteriormente foram reproduzidas em papel vegetal e hoje estão no Marsul. O diretor relembra que a descoberta ficou famosa no mundo inteiro, tendo repercussão nacional e internacional na imprensa.

Soares afirma que além de buscar viabilizar as atividades do museu, uma outra frente de trabalho tem sido desenvolvida em conjunto com a comunidade do Km-04 – onde fica situado o Marsul. A ideia é instalar um parque comunitário ao lado do prédio, com espaços para caminhada, jardins e atividades de lazer. O projeto já tem até nome: “Parque Cultural Eurico Muller”, em homenagem ao fundador do museu.