Municípios revelam números de campanha de vacinação contra a poliomielite no Paranhana

Campanha foi prorrogada até o dia 21 de novembro Foto: Lilian Moraes

Região – Devido à baixa procura pela vacina contra a poliomielite identificada no Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual de Saúde confirmou recentemente que a campanha de vacinação, iniciada no dia 05 de outubro, foi prorrogada até 21 de novembro.

No Vale do Paranhana, em contrapartida, o cenário da cobertura vacinal é equilibrado. Das seis cidades que compõem a região e que são de abrangência do Grupo Repercussão, quatro estão com mais de 70% da população imunizada: Igrejinha, Três Coroas, Rolante e Riozinho. No entanto, mesmo com um percentual indicando números elevados, as atenções das secretarias estão voltadas a atender a população que ainda não teve acesso à imunização.

Já em Taquara e Parobé, municípios mais populosos do vale, até a terça-feira (10), 58,75% e 59,90% respectivamente foram vacinadas. Em todas as cidades, ações de intensificação da campanha estão sendo realizadas e estudadas.

O dia D de mobilização acontece no dia 21 de novembro, data em que se encerra o período de imunização, tanto da poliomielite quanto da multivacinação, que foi igualmente prorrogada.

Entrevista exclusiva

Com mais de 40 anos de experiência, Renato Fagondes é médico pediatra, responsável técnico e um dos fundadores de uma das mais conceituadas clínicas de vacinas da região: a Protecto Clínica de Vacinas. Em entrevista exclusiva ao Grupo Repercussão, Fagondes explicou o que é a poliomielite, falou sobre os sintomas da doença e ressaltou a importância da imunização, sendo que, atualmente, é o único método de prevenção da doença, que mesmo erradicada no Brasil, necessita de cuidados. Veja abaixo a entrevista completa.

Percentuais de vacinação detalhados pelas secretarias de saúde

1 – Até a quinta-feira (05), em Três Coroas, foram vacinadas 70,42% das crianças da cidade. De acordo com os dados disponibilizados pelo Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), ao todo, são 1266 crianças a receberem a vacina no município. Mesmo com um número acima dos 70%, a secretária de saúde Carla Muller ressaltou que a pandemia da Covid-19 contribuiu para que o número de imunizados não fosse maior. “Os pais estão apresentando muito medo e resistência de trazer seus filhos até as unidades para vacinação e acabarem contaminados com o vírus. Mesmo assim, reforçamos que todas as UBS estão seguindo diversos protocolos de proteção e garantindo a segurança de todos que procuram por atendimento”, enfatizou.

2 – Em Taquara, o secretário de Saúde Vanderlei Petry detalhou na quinta-feira (29) ao Grupo Repercussão, que foram vacinadas 1619 de um total de 2783. O responsável pela pasta elencou os dois principais motivos pelos quais a secretaria acredita que a população não procurou os locais de vacinação. “O primeiro motivo foi em decorrência da pandemia, pois se disse para as pessoas ficarem em casa e de certa forma, ficaram em suas residências e acabaram não levando para vacinar contra a poliomelite e nem para outras vacinas. A segunda explicação é a disseminação das fake news, que intrinsicamente acabam falando sobre uma ineficácia das vacinas, então isso gera confusão nas pessoas”, explicou.

3 – No município de Parobé, até a segunda-feira (09), 59,90% das crianças foram vacinadas, o que conforme a plataforma do governo federal, representa 1757 doses aplicadas.

De acordo com a secretária de Saúde Ana Elisa de Lima, a administração parobeense está estudando a possibilidade da realização de um drive-trhu, para atender a população que ainda não teve acesso à vacina. Uma expansão nos locais de vacina também está sendo analisada.

A responsável pela pasta ainda informou que nas últimas semanas a procura pela imunização por parte dos moradores têm aumentado, “a população estava com receio por conta da pandemia”, contou Ana.

Fique por dentro

De acordo com a secretaria Estadual de Saúde (SES), até a quinta-feira (29), o Rio Grande do Sul havia registrado a aplicação de 286.403 doses da vacina contra a Poliomielite em crianças de até 5 anos, o que representa 54,1% da faixa etária abrangida pela campanha. Foram 98 municípios do Rio Grande do Sul, o que corresponde a 20% do total, alcançaram a meta.

O órgão ainda explica que o esquema vacinal de poliomielite é composto por duas vacinas: a injetável aplicada aos dois, quatro e seis meses de vida da criança e a vacina oral aplicada aos 15 meses e aos quatro anos. Nesta campanha, as crianças dessa faixa etária passarão por uma avaliação da situação vacinal para poliomielite. As maiores de um ano que estiverem com seus esquemas vacinais em dia receberão uma dose da vacina oral, conhecida como dose D (indiscriminada).

Ações promovidas pela região

Para intensificar a vacinação a secretaria de saúde de Igrejinha informou que está promovendo a “Campanha Móvel de Multivacinação 2020”, em parceria com o Corpo de Bombeiros Voluntários do município. Nessa ação, os profissionais de saúde estão passando em bairros da cidade onde foi identificado menor adesão à campanha, facilitando o acesso a vacina para as famílias que não tiveram a oportunidade de comparecer até as unidades de saúde.

Na cidade de Três Coroas, a secretaria municipal de saúde (SMS) está realizando uma busca ativa para identificar quem ainda não foi imunizado, principalmente nas áreas das unidades de Estratégias de saúde familiar (ESF).

Já em Taquara, o secretário de saúde Vanderlei Petry ressaltou que a cidade está intensificando a busca ativa de quem ainda não realizou a vacina através dos agentes comunitários do município, colocando carro de som e também fazendo uso das mídias sociais para conscientizar a população sobre a importância da imunização.

Em Rolante, mesmo com 92,03% da população já vacinada, a secretaria informou que está realizando uma busca ativa para identificar as 78 crianças que ainda não receberam a dose.

Perspectivas dos secretários

Carla Cristina Muller, secretária de saúde de Três Coroas. “Os pais estão apresentando muito medo e resistência de trazer seus filhos até as Unidades para vacinação e acabarem contaminados com o vírus.”

Vanderlei Petry, secretário de saúde de Taquara. “O município está intensificando a busca ativa de quem ainda não vacinou através dos agentes comunitários e também por meio da colocação de carro de som na rua”

Ana de Lima, secretária de saúde de Parobé. “Esta aumentando a procura pela vacinação. A população estava com receio por conta da pandemia (…) Estamos pensando como ação em fazer um drive trhu e também expandir as salas de vacinação”

Entrevista com Renato Fagondes, responsável técnico, Protecto Clínica de Vacinas

Jornal Repercussão – O que é a poliomielite?
Renato Fagondes – A poliomielite é uma doença que determina a paralisia. É a chamada paralisia infantil de antigamente. Então a gente vê ainda alguns adultos com o membro inferior um pouco mais curto que o outro, mais fino. Enfim, com dificuldade de caminhar, em consequência dessa doença. Existia uma outra forma também que determinava o comprometimento do músculo respiratório, então muitas vezes a criança morria por insuficiência respiratória em função da paralisia infantil. Basicamente a poliomielite é quase um sinônimo de paralisia infantil. Para a gente entender qual é a repercussão disso, de uma criança não vacinada o risco que ela corre de eventualmente ter essa doença.

Jornal Repercussão – Como acontece a transmissão?

RF – A transmissão ela é fecal/oral. É através da boca ou através das fezes. Por isso nós chamamos de fecal/oral. Quase sempre do ânus, das fezes da criança, para a boca de uma pessoa. Isso parece uma coisa tão inviável, mas é perfeitamente viável quando lembramos de crianças em creches, por exemplo. Onde eles convivem e as condições de higiene não são as mais perfeitas. Então isso é uma coisa possível. Uma criança que, por exemplo, toca no ânus, está com o vírus, toca em uma superfície e vem outra criança e coloca a mão no mesmo local, já tem chances de contrair a doença.

Jornal Repercussão – Quais são os principais sintomas?
RF – É uma doença infecto contagiosa, então como isso não acontece mais há muito tempo, a gente já perdeu o traquejo. No entanto, a gente sabe de qualquer forma que ela provoca febre, como toda doença infecciosa e além disso, ela tem estes problemas de paralisia, de diminuição de movimento ou até paralisia total de um segmento ou membro, caracterizando então a doença já instalada. Como toda doença viral, não é uma doença que tenha como a gente tratar e evitar a evolução, pois ela é uma doença viral e toda a doença viral tem ciclos, então não temos como evitar o desenvolvimento dela. Muitas vezes, antigamente, quando acontecia de a criança ter problemas respiratórios, aí a criança tinha que ir para um respirador ou algo assim, se tratava efetivamente, mas medicação, remédio para tratar essa doença não tem. A partir do momento que o vírus é contraído, não tem cura.

Jornal Repercussão – Como se prevenir da doença?
RF – A prevenção é através da vacinação. No Brasil e em vários países do mundo a doença está erradicada baseada em vacinas. Existem dois tipos de vacinas, uma delas é a intramuscular, que é a injetável e uma outra que é via oral. A primeira a ser criada foi a oral e depois então veio essa intramuscular, que é uma vacina mais pura e com menos chances de dar qualquer para efeito da vacina, que possa dar alguma repercussão da vacina. A via oral eventualmente tem um risco, mas essa injetável não tem.

Jornal Repercussão – Considerando as fake News que acabam circulando acerca do tema, desqualificando a imunização e disseminando notícias falsas a respeito da vacina, qual é o conselho que o senhor pode dar para os pais com relação ao assunto?
RF – Veja bem, como já comentei, a poliomielite está erradicada do Brasil. Há quase 30 anos nós não temos nenhum caso e isso é uma coisa maravilhosa. Uma país que consegue isso é um país que tem uma estrutura de saúde. Em outros países isso não acontece e é em função disso que não existe mais a poliomielite e nem novos casos de paralisia infantil. Passariam a existir novamente se nós descuidássemos da imunização das crianças, ou seja, se as crianças pararem de fazer vacina, daqui a pouco vão surgir casos aqui no Brasil. Isso a gente está vendo com o Sarampo que também era uma doença praticamente erradicada e que agora nós temos inúmeros casos no país todo. Por que? Porque uma população começou a se distanciar. Fez a vacina. Ficou muito tempo sem fazer o reforço e ficou suscetível a ter a doença. Aí o pessoal que veio de outros países como da própria Venezuela, atravessaram a fronteira, pessoas não vacinadas, trouxeram o sarampo e atingiu pessoas que estavam desprotegidas.
Então, vacina tem que ser tratada como uma proteção. Pode dar para efeito? Pode. Mas os mais comuns, que eventualmente as vacinas causam, são febre, dor e irritação no local da vacina e algum ou outro sintoma. Todos eles com tempo curto de duração e com tratamento sintomático que resolve o problema. As estatísticas revelam que nós temos 1,2 casos de complicação de complicação da vacina anti pólio via oral, em cada milhão de vacinação feita. Isso é um índice baixo se a gente levar em consideração o resultado, a proteção que ela proporciona. Mas ainda assim, como essa complicação ela se deve quase sempre a vacina anti pólio aplicada oralmente, o próprio Sistema Único de Saúde (SUS) está oferecendo a vacina injetável, então aquela vacinação que era feita dos 2, 4 e 6 meses via oral, agora é injetável, ou seja, não tem mais para efeito.