Histórias da época do trem: aqueles que viveram nunca esquecem

Com a conclusão da Estrada de Ferro, Taquara – Canela em 1924, no trecho do bairro Centro, foi instalada uma Estação Ferroviária que vendia bilhetes para o embarque e desembarque de passageiros e de mercadorias.

O trem passava, diariamente, duas vezes pela estação, sendo uma pela manhã e outra à tardinha. O trem, movido a carvão, era percebido a longa distância, devido à fumaça, pela queima da lenha, e devido ao seu apito característico. Quando parava na estação trazia, além de passageiros, também encomendas para as casas comerciais e indústrias, inclusive, as correspondências. Essas ficavam sob a responsabilidade de Oscar Maztembacker, que as distribuía aos moradores locais.

O trem levava em seus vagões alimentos, tábuas, lenha, lajes de pedra, porcos, leite e passageiros para cidades vizinhas. Adelino Ramos da Silva, 73 anos, foi maquinista e antigo foguista do trem Taquara – Canela, nos anos de 1955 a 1960. Filho de Augusto João da Silva, cresceu vendo seu pai trabalhar na conservação dos trilhos do trem.

Adelino trabalhou nas locomotivas a vapor de nº371 a 375 e ainda 391 a393. Todas elas utilizadas para o transporte de passageiros. Contou que quando o trem parava na estação recebia das mãos do agente estacionário, uma licença para prosseguir a viagem. Os funcionários das ferrovias eram pagos através do trem-pagador que partia de Porto Alegre com destino a Taquara-Canela. O trem-pagador passava o dinheiro ao capataz de cada ponto (Igrejinha era o ponto número 11), e este se encarregava de distribuí-lo aos demais funcionários. Superior ao capataz era o mestre de linha, na pessoa de Adão Schaeffer, encarregado de organizar os trabalhos na via férrea e na Estação.

Adelino Ramos da Silva contou que, para a construção da linha férrea, primeiramente, foi feito o preparo da terra, a explanação dela. Após foram “largados” os dormentos, pedaços de madeira, e por fim, foram instalados os trilhos que eram afixados com pregos e com os tirafundos, roscas para apertar os trilhos.

Em 1964 a linha Taquara – Canela foi desativada e as máquinas vendidas como sucatas para siderurgia Sapucaia, aos poucos, os trilhos foram arrancados. Mas, antes de serem todos retirados, surgiu o carromotor que fazia apenas o transporte de passageiros neste trajeto. Ele possuía motor e era movido a gasolina. Aos poucos caiu em desuso, as pessoas preferiam utilizar os ônibus, pois com a construção da rodovia RS-115 este transporte tornava-se mais rápido e barato.

Entre os fatos tristes, está a morte de Alberto Schwingel e seu filho, que morreram em um acidente na linha do trem no final da década de 1940.

Por Berenice Fülber Sander e Flávia Corso Mohr | Livro Igrejinha Uma História em construção