“Estamos perdendo uma grande empresa”, diz Pedro Rippel sobre venda da Corsan

Prefeito de Rolante e presidente da Agesan, Pedro Rippel Foto: Matheus de Oliveira

Rolante – O governo do Estado divulgou recentemente sua intenção de privatizar a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) através da abertura de capital à iniciativa privada. A estimativa de Eduardo Leite é de levantar cerca de R$ 1 bilhão com a oferta pública inicial das ações, com parte do recurso a ser utilizado para aumentar a atratividade da companhia. Com a medida, o Estado deixará de ser o acionista majoritário da empresa e passará a ser o acionista de referência, mantendo cerca de 30% dos papéis.

A privatização da estatal está longe de ser um consenso entre os gaúchos. E quem se posiciona de forma contrária é o prefeito de Rolante e presidente da Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (Agesan), Pedro Rippel. Para ele, isso significa perda de patrimônio do Estado e aumento de tarifas, já que a iniciativa privada deverá maximizar os lucros. “Vamos vender algo que é nosso para depois pagar mais caro pelo atendimento”, define.

Atualmente a Corsan é responsável pelo fornecimento de água e tratamento de esgoto em 317 dos 497 municípios do estado — número que inclui as cidades do Vale do Paranhana.

Estado diz que empresa não tem capacidade para cumprir com novas regras do saneamento
Em 2018, Leite prometeu em campanha não vender as estatais Corsan e Banrisul. A mudança de postura é explicada pelo governador em razão do novo marco do saneamento básico do Brasil, que estabelece uma série de metas a serem atingidas até 2033. Para cumprí-las, a Corsan precisaria triplicar investimentos, algo que estaria distante da capacidade da empresa. Rippel avalia que são necessários cortes de custos e mudanças internas para poder investir. “Ela é uma empresa que tem alto poder de arrecadação. Essa arrecadação poderia entrar nesse marco do saneamento, que ainda tem um longo prazo para ser cumprido”, pontua.

ENTREVISTA

 Jornal Repercussão: qual sua avaliação sobre a privatização da Corsan?
Pedro Rippel: “Vejo que é mais um patrimônio do nosso Estado que está sendo vendido. Acho que sempre que se vende alguma coisa que é do próprio Estado é ruim. Tu está se desfazendo de um bem que é dos gaúchos. Isso vai nos empobrecendo aos poucos, vai ficando em mãos de empresas privadas e o Estado vai perdendo patrimônio e poder. Vem bem ao contrário do que o governador pregava em época de campanha, dizendo qua não iria privatizar Banrisul e Corsan e hoje está com esta proposta. Acho que deveria, sim, investir na Corsan, enxugar, administrar de forma melhor para que continuasse sendo patrimônio do Estado. A reclamação que tem é que ela dá prejuízo, e na verdade eu vejo o seguinte: como pode dar prejuízo na mão do estado e se vender vai dar lucro na mão do privado? Se está dando prejuízo, é falta de gestão. Tenho certeza que qualquer empresa privada que pegar ela vai tornar ela rentável. Poderia ser gerida de uma forma a continuar beneficiando os gaúchos e ser uma empresa dos gaúchos. Então estamos perdendo uma grande empresa.”

JR: pode apontar algo específico que precise ser mudado para dar capacidade de investimento à Corsan?
PR: “Não poderia apontar algo, mas vejo que é uma questão de gestão interna. Talvez diminuir o fluxo de funcionários, buscar empréstimo no BNDES ou algum banco internacional para fazer esse investimento e depois ir se pagando aos poucos com a arrecadação. É um baita investimento. Por isso que não vejo lógica na venda. Talvez o governo esteja fazendo isso para arrecadar algum recurso ou vender pra não ter mais esse trabalho de gerir ela.”

JR: vê algum ponto positivo em caso de sucesso na privatização?
PR: “Depende muito qual consórcio ou empresa que vai ganhar, porque provavelmente vão subir as tarifas de água. Nós vamos pagar o preço disso. No momento que tu vai vender pra alguém privado ele vai visar o lucro. Quem vai dar o lucro pra ele é o contribuinte. Nosso medo é que vai aumentar tarifas e o custo para manutenção dela. Vamos vender algo que é nosso para depois pagar mais caro pelo atendimento.

JR: o governo quer retirar a necessidade de plebiscito. Entende que isso é correto?
PR: “Eu sou favorável ao plebiscito porque cada um vai ter a oportunidade de dizer se querem ou não. O povo pode até querer a privatização, mas no plebiscito vamos ter a oportunidade de saber isso. É uma forma mais democrática de se fazer a venda da companhia.”