Entrevista: “Temos que ser muito prudentes no verão”

Foto: Melissa Costa

Fernando Spilki é presidente da Sociedade Brasileira de Virologia desde janeiro de 2019, além de atuar também como professor e coordenador nos cursos de Medicina Veterinária e Ciências Biológicas da Universidade Feevale. Possui graduação em Medicina Veterinária e mestrado em Ciências Veterinárias pela UFRGS, na área de Virologia Animal (2004) e doutorado em Genética e Biologia Molecular, área de microbiologia, pela Universidade Estadual de Campinas. Em entrevista ao Grupo Repercussão, Fernando explica os riscos de contágio do novo coronavírus na praia e os cuidados que os veranistas devem ter na ida ao litoral no próximo final de ano.

 

“Se tem aglomeração, procure evitar. Uso da máscara sempre. Manter ambientes ventilados. Na beira da praia não vai ter outra solução além de ir nos horários em que esteja mais vazia. Sempre que tiver pessoas por perto, utilizar a máscara.”

Jornal Repercussão: Quais os riscos de contágio de Covid-19 na praia e como se prevenir?
Fernando Spilki: O risco de contrair a Covid é multifatorial. É claro que o pior cenário é uma aglomeração em um ambiente fechado e com pessoas sem máscara. Mesmo que na praia seja aberto, se houver o componente da aglomeração e muitas pessoas sem máscaras, temos problemas. Então, independentemente de onde estiver e da atividade, se tem aglomeração, procure evitar. Uso da máscara sempre. Manter ambientes ventilados. Na beira da praia não vai ter outra solução além de ir nos horários em que esteja mais vazia. Sempre que tiver pessoas por perto, utilizar a máscara. Outro detalhe que é muito relevante que as pessoas saibam é o tempo de exposição. Por que falamos tanto e por que há tanta discussão, por exemplo, sobre as atividades culturais que envolvem cinema, teatro, ou a própria questão da volta às aulas, o que está envolvido? O tempo de exposição. São situações em que a gente fica sentado em um ambiente fechado duas horas, às vezes, com mais pessoas. A mesma coisa na praia ou em qualquer outra atividade. Temos que baixar o tempo de exposição. Quanto menos tempo você ficar em convívio com outros indivíduos que você não sabe se estão espalhando o vírus, melhor. Então, idas rápidas à praia, procurar outras atividades alternativas, como a caminhada, por exemplo, que você tenha menos tempo de contato próximo com outras pessoas. Não adianta um ambiente aberto se está todo mundo aglomerado. Aquelas cenas que vimos de Santa Catarina é perigoso. Outra coisa que as pessoas precisam tomar muito cuidado é que nem sempre as estruturas do litoral estão prontas para receber as milhões de pessoas que vão à praia. Então, o que é uma fila de supermercado aqui na região se transforma numa enorme fila na praia, já que são estruturas menores, dependendo do lugar. Então, tomar cuidado, ser muito esperto em relação aos horários que vai à praia, em relação aos horários que vai fazer compras, e continuar evitando aglomeração, continuar evitando ir em ambientes não ventilados, continuar evitando atividades que possam ser substituídas por outras. Temos um problema crônico no Brasil que as pessoas enchem a praia justamente quando há a pior exposição ao sol. Evite esses horários. É um tempo diferente, aqueles velhos hábitos não nos dão segurança. Evita aglomeração. Evita. E, na praia, há muitos eventos sociais, vamos ter que evitar e ser racionais quanto a isso. A gente espera uma segunda onda, que, se obedecer ao mesmo padrão dos países europeus, deve chegar ao redor do outono aqui no Brasil. Se não nos cuidarmos, podemos ter o problema da manutenção do número de casos mesmo durante o verão.

 

“Temos que baixar o tempo de exposição. Quanto menos tempo você ficar em convívio com outros indivíduos que você não sabe se estão espalhando o vírus, melhor.”

JR: Mais pessoas no litoral pode sobrecarregar o sistema de saúde do litoral?
FS: É um agravante. Temos as próprias doenças do verão, que já muitas vezes sobrecarregam essas unidades de atendimento, principalmente no atendimento ambulatorial. São as gastroenterites, como diarreia e vômito, principalmente em crianças no litoral. Essas doenças não vão sumir. Outra coisa que precisamos estar muitos atentos é que já tivemos um ano de dengue muito grave no país e um número de casos no RS acima do normal que tínhamos. Pode ser que esteja se avizinhando aquela situação de epidemias preocupantes de dengue também no RS ao longo dos próximos anos, e a gente também não sabe se já não pode chegar neste próximo verão. Então, precisamos estar muito atentos com a prevenção à gastroenterite e com a dengue. Essas doenças todas, chegando juntas aos serviços de atendimento, mais a Covid que não deve sumir, que deve estar presente também, tem mais esse risco. É um momento para as pessoas se reeducarem em relação a essas questões de prevenção das várias doenças, e também dessas questões de acidentes, e realmente sermos muito prudentes neste verão. Podemos ter uma carga muito grande de diferentes doenças em cima do sistema de saúde, especialmente do litoral, que sabemos que nem sempre está dimensionado para dar conta dessa população que aflui para as praias principalmente do litoral norte.

 

JR: Em relação aos eventos comemorativos e encontros de fim de ano, quais as recomendações?
FS: Para o final do ano a recomendação é que as pessoas continuem acompanhando os dados gerados pelas secretarias de saúde, a recomendação das autoridades sanitárias dos municípios, dos estados e do Ministério da Saúde, para poder dimensionar como vão ser esses eventos, se realmente vão poder ser organizadas reuniões familiares maiores ou menores. Temos que acompanhar como vai estar a atividade do coronavírus, infelizmente, agora nesse final de ano. Isso é fundamental.