Entregadores falam sobre o trabalho em meio à pandemia

Pandemia aumentou a demanda de trabalho dos profissionais Foto: Lilian Moraes

Por Lilian Moraes

Três Coroas – Seja para entregar documentos, comida ou medicamentos, a classe dos entregadores também foi uma das que ficou na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus.

 

Do lado de fora dos hospitais, são eles que enfrentam, nas ruas, o desafio de continuar realizando as entregas, que aumentaram significativamente, diante do cenário atual.

 

Conforme Julio Mergener, motoboy na cidade de Igrejinha, a demanda de trabalho aumentou, mas esse maior número de entregas não reflete, necessariamente, em uma remuneração que condiz com esse aumento. “Hoje existe um leque maior de opções. Antigamente, o pessoal ganhava um pouco mais exatamente por ter menos locais que apostavam no delivery”, explica o motoboy.

 

Jardel Freitas e Juliana Matteus, ambos entregadores em Taquara, contam que na cidade o fluxo de entregas também aumentou. “Aumentou sim. Agora as pessoas estão evitando sair de casa, assim isso ajuda nós e previnem a saúde deles também”, destaca Juliana.

“Sim, o número de entregas dobrou. Percebi também que outras empresas tiveram que se adaptar e implantar o delivery para que não fechassem as portas”, detalha Freitas.

Motogirl relata discriminação de gênero por parte de contratantes em Taquara

Juliana relembra de situações que contratantes não a contrataram pelo fato de ser mulher. “Faz mais de três anos que trabalho com isso e eu ainda sofro com lugares que precisam de um profissional, mas que não querem contratar mulher. Já aconteceu comigo em dois lugares. Tem gente que discrimina, sim. Tem um comércio aqui em Taquara que a dona me conhece, conhece a minha família, mas por eu ser mulher ela não quis me contratar”, relembra.

Cuidados redobrados

A limpeza e os cuidados com a higienização também foram intensificados. Conforme os
profissionais, a higiene das motos, das máquinas de cartão e das mãos foram redobradas, a fim de evitar a circulação do vírus e proteger quem faz uso dos serviços.

“Com certeza, higienização intensa da moto, higienização pessoal a cada retorno à empresa, uso de máscara contínuo, muito álcool gel nas mãos e também limpeza de máquinas de cartões”, comenta Jardel Freitas. Em Igrejinha não é diferente. Julio Mergener conta que pediu álcool gel, máscara e luvas para seus patrões. “Aumentou o cuidado com a higiene das mãos e o uso de máscaras é constante”, disse.

Juliana, além de falar da higienização, conta sobre sua experiência de ter que lidar com a máscara e a sinusite. “Os cuidados são em dobro, o álcool gel, por exemplo, eu não usava (…) todo inverno eu sofria com a sinusite e agora com a máscara até isso diminuiu, o que por um lado é bom”, disse.

Percepções sobre o momento

Juliana Matteus, 27 anos. “Tem uns que valorizam, mas tem gente que ainda acha que é um absurdo pagar o valor da tele-entrega. Existem pessoas que ainda preferem tirar o carro da garagem e buscar sua encomenda no local só para não pagar o valor da tele para o profissional.”

Júlio César Mergener, 39 anos. “Aumentou bastante o pessoal que tem consideração, que entende a nossa vida e o nosso trabalho. Só que como em todos os empregos, tem os bons e os maus. A situação já foi pior. Deu uma melhorada, mas ainda sofremos um preconceito.”

ardel Freitas Pereira, 34 anos. “A maioria está valorizando, sim. Acredito que muitas pessoas que não tinham essa cultura de solicitar as entregas, com certeza vão continuar fazendo pedidos depois que a pandemia acabar, pela comodidade que o serviço possibilita ao cliente.”