Depósito em Três Coroas zera passivo ambiental

Vala com 70 metros de extensão é uma das quatro que foram esvaziadas Foto: Matheus de Oliveira

Três Coroas – Utilizada como depósito de resíduos ao longo de 12 anos, uma área de oito hectares, localizada no Morro Ceroula, será devolvida ao município sem passivos ambientais. A ação é do Sindicato da Indústria de Calçados, Componentes para Calçados de Três Coroas (SICTC) e não tem precedentes no país.

O Aterro de Resíduo Industrial Perigoso (ARIP) funcionou do ano 2000 até 2012, e neste período recebeu cargas semanais de lixos destinados por indústrias associadas ao SICTC. Daquele ano em diante, o sindicato passou a apostar em uma nova metodologia de descarte: o coprocessamento. A partir disso, as quatro valas de 70 metros de comprimento, três de largura e altura passaram a ser esvaziadas, em um processo que durou até 2018 e exigiu R$ 8 milhões em investimentos.

A devolução ainda precisa ser aprovada pela Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente (FEPAM).

Coprocessamento transforma resíduos em carvão
A nova metodologia de descarte adotada pelos associados ao sindicato consiste na queima do material, que acaba virando matéria prima. “No coprocessamento, para onde os resíduos passaram a ser enviados em 2012, ocorre a queima desse material descartado em fornos de klinker, que mais tarde transformam-se numa espécie de carvão, que abastece os fornos de cimenteiras”, explica Grasiela Rutiel Huff, gestora ambiental e responsável técnica do SICTC. Todo o lixo acumulado no aterro também recebeu este fim.

Somente em abril, as indústrias do município destinaram cerca de 31 toneladas de resíduos, conforme Grasiela. O coprocessamento ocorre em uma empresa de Farroupilha, e tem custo de R$0,59 por quilo, além do transporte.

“Não foram medidos esforços e nem gastos para que hoje pudéssemos nos orgulhar em dizer que a indústria calçadista de Três Coroas não tem mais nem 1 Kg de resíduo depositado em aterro. Somos 100% livres de passivo ambiental”, comemora o presidente do SICTC, Joel Brando Klippel.

O que ainda precisa ser resolvido
Grasiela conta que em agosto do último ano foram realizadas análises de água e de solo, que comprovaram não haver contaminação no aterro. “O que faltou foi a Prefeitura, que vai ser detentora da área, trazer uma proposta de uso futuro. Hoje trabalhamos em conjunto na elaboração disso”, explica. Em razão da devolução do ARIP ser um processo inédito, a FEPAM também atua com cautela e tem exigido mais informações sobre o local.

A ideia para o reaproveitamento do espaço é torná-lo um depósito de construção civil para a região do Paranhana, Serra e Hortênsias. “Todos os resíduos seriam transformados em brita para uso em aterros, vendas e até na manutenção de estradas do interior da cidade. É a proposta que vamos apresentar”, frisa a gestora ambiental. Junto a isso também haveria espaço para compostagem das podas e dos materiais orgânicos colhidos no município.