Comentário: Depressão de Natal

Está chegando o final do ano.
Com ele, para além das atribulações visíveis e ruidosas das compras de presentes, das escolhas da ceia, da construção cuidadosa dos enfeites natalinos e da fatigante disputa por espaço nas estreitas ruas de Gramado com a intenção de assistir a pirotecnia do “Natal Luz”, um fenômeno mais silencioso se desenrola em nossos corações e mentes. Trata-se de uma irrupção de afetos. Emoções, agradáveis para uns, profundamente desagradáveis para outros nos invadem e atingem seu ápice na noite de Natal.
Registros de festas natalinas anteriores são atualizadas, trazendo a lembrança de momentos familiares candentes, quando a celebração nos fazia pensar no eterno prolongamento de uma sensação de pertencimento e proteção. As idealizadas festas natalinas, propagadas pelas mais diversas mídias, são celebrações que nos fazem recordar esses momentos e ritualizar através de trocas de presentes e conversas amenas a manutenção e fortalecimento de vínculos familiares saudáveis. Enfim, estamos na “melhor época do ano.”
Infelizmente, nem todas as pessoas são capazes de viver essas agradáveis emoções.
Para essas pessoas a época natalina é fonte de tristeza e ansiedade.
Lembranças de “noites felizes” evocam perdas não elaboradas, expectativas que não se realizaram, dificuldades financeiras, separações.
O Natal é uma festa familiar. Somos impelidos a pensar no espaço que ocupamos em nossa família. Se nascemos e nos desenvolvemos em famílias cuja rotina envolvia brigas, humilhações e maus-tratos, nossos sentimentos podem contrastar vivamente com a ideia de felicidade. Por outro lado, lembranças ternas podem fazer vir à tona lutos não elaborados de perdas, solidão e desamparo.
Existe uma expectativa social de que devemos entrar no “espírito natalino”, nos sentirmos animados e felizes e planejarmos alegremente a noite de natal.
Se nosso sentimento é o oposto podemos ser invadidos por uma grande tristeza. Estados depressivos prévios podem ser potencializados a partir da constatação de que não conseguimos “entrar no clima”. Lembranças de entes queridos que não estão mais conosco fazem o sofrimento latente voltar a se manifestar.
Para este Natal, não esqueça:
Sua vida é única, pessoal e intransferível. Uma trajetória singular. Seus sentimentos mais honestos devem ser validados.
Não oriente sua vida, exageradamente, por expectativas sociais.
Se você sentir que está sofrendo em demasia, não se desespere. Você pode buscar ajuda profissional e seu sofrimento pode dar início a uma transformação que irá torná-lo mais forte e mais capaz de encontrar graça na vida.