Chance de nova estiagem acende alerta para quem depende da agricultura

Cascalho à mostra com baixo nível do Rio Paranhana em maio passado, em Igrejinha | Foto: Matheus de Oliveira

Região – A estiagem que atingiu em cheio o Rio Grande do Sul no último verão pode voltar a ser o pesadelo de muitas famílias. Os prognósticos dos próximos meses apontam para uma possível seca, que deve ganhar força em novembro. O Boletim do Conselho Permanente de Meteorologia Aplicado do Estado do RS (Copaaergs) indica para este mês uma redução ainda maior de chuva em relação a outubro, que já foi marcado por índices pluviais abaixo da média histórica. Em dezembro, são esperados padrões mais próximos da média, mas a previsão de temperaturas acima do normal deve manter a perda de água do solo e das plantas em nível elevado, conforme o relatório.

 

O meteorologista Nilson Wolff, responsável pela Estação Meteorológica de Campo Bom, explica que o fenômeno causador da escassez é o La Niña. “Ele está acontecendo há um bom tempo no sul do Brasil. O La Niña ocasiona chuvas irregulares e até escassas, e também proporciona entrada de massa de ar frio, que deixa as mínimas baixas para essa época do ano”, explica.

 

Ano climaticamente irregular

O meteorologista ressalta que não é possível afirmar que a estiagem irá se prolongar, tendo em vista que considera o ano climaticamente estranho. “No início, tivemos uma das maiores secas da história, depois de julho tivemos grandes enchentes e, agora, o prognóstico é de seca de novo”, exemplifica.

No entanto, Wolff pontua que o La Niña é um fenômeno de duração de cinco a sete meses, o que indica sua continuidade em 2021, já que ele teve início nos últimos dias de setembro. “O La Niña influencia todo o estado e também o Brasil, com chuvas irregulares e escassas na região sul e excesso de precipitação no nordeste e sudeste”, complementa, acrescentando que “a seca já está acontecendo e vai continuar, com tendência de se agravar porque o que está previsto não é coisa boa”.

Perda foi na casa do milhão com a falta de chuva

A falta de chuvas trouxe graves prejuízos para quem tira o sustento do trabalho do campo. Em Igrejinha, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais estima que neste ano os prejuízos foram na casa do milhão, com queda na produção de goiaba, soja, milho e outras culturas. O município possui mais de 600 propriedades rurais e, destas, cerca de 350 dependem das lavouras. Essas famílias representam mais de 1.500 pessoas, que cultivam produtos que abastecem o comércio local, a merenda escolar e, ainda, ações como a Feira do Produtor.

Ana Lucia Trentin, Engenheira Agrônoma da Emater/RS Ascar da cidade, vê com preocupação o cenário já que houve pouco tempo para recuperação dos produtores. Para amenizar os impactos de uma eventual estiagem, a Emater está programando para o dia 19 de novembro, às 14 horas, uma live com orientações. Serão dicas sobre uso de plantas e pastagens perenes para armazenar melhor a água no solo; como construir um açude na propriedade e como economizar água com irrigação racional.

O link da reunião virtual pode ser obtido através de contato com o número (51) 999827391.

Falta de chuva também afeta abastecimento de água de quem mora no interior

Os efeitos da seca não se restringem ao trabalhador rural. A falta de água para consumo foi a realidade enfrentada por famílias do Vale do Paranhana que residem em localidades afastadas. Diariamente, caminhões pipa percorriam longas distâncias para levar o abastecimento. Em maio, a reportagem chegou a acompanhar uma ação dos Bombeiros Voluntários de Rolante levando água até Sampaio Ribeiro, no interior de Riozinho (foto principal). As regiões distantes não contam com serviço de empresas que forneçam água e, por isso, os moradores dependem de poços cavados, que acabam ficando vazios sem a recorrência de chuva.

Estado encaminha recursos para perfuração de poços e açudes no Vale do Paranhana

Entre os programas executados pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) para mitigar os efeitos da seca, estão a implantação de redes de água, a construção de açudes, a perfuração de poços e o estímulo ao aumento da área irrigada. No vale do Paranhana, Igrejinha, Rolante, Riozinho e Três Coroas receberão um valor destinado para a perfuração de poços artesianos em pontos específicos de cada cidade.

“Nós sabemos das dificuldades que os produtores gaúchos vêm enfrentando. Tivemos uma severa estiagem no início deste ano, na sequência o agravamento da pandemia e, mesmo assim, os agricultores mostraram a sua força, continuaram produzindo, e ajudaram a garantir o abastecimento. Desde o início do ano, intensificamos programas existentes na Agricultura, quase triplicamos o número de poços perfurados se compararmos à 2019, demos continuidade na construção de micro açudes e inovamos com a criação da Câmara Temática da Irrigação, visando incentivar o aumento da área irrigada no Estado e diminuir a burocracia para a instalação de pivôs”, destaca o secretário Covatti Filho.

Comparação com 2019

Um dos programas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural é o de construção de poços tubulares profundos. Neste ano, até outubro, foram perfurados 69 poços e realizadas sete limpezas, atendendo a 5.320 famílias em diferentes regiões. Em 2019, foram perfurados 37 poços e realizadas duas limpezas