Artigo: “Setembro Amarelo em tempos de pandemia”, por Luiz Antônio Cogo Moraes

Desde o mês de março, estamos aprendendo a conviver com limitações e impedimentos inéditos à nossa maneira usual de viver. A pandemia do coronavírus de um momento para o outro passou a nos exigir um nível de adaptação radical a uma nova realidade; a demandar um grau de resiliência brutal.

 

O isolamento social, a impossibilidade de se deslocar com liberdade, a convivência íntima forçada, o afastamento físico compulsório, uma série de práticas e comportamentos exigidos a revelia de nossas escolhas têm levado alguns de nós a um extremo de esgotamento emocional.

 

Para dar conta dessa realidade, alguns de nós apelamos para a descarga imediata de afetos (abuso de drogas, agressividade) encontrando ao invés de alívio, um aumento considerável, de culpa, medo, ansiedade, tristeza e outros afetos desagradáveis. Esse círculo vicioso pode levar o indivíduo a um estado de extrema vulnerabilidade emocional. A combinação vulnerabilidade emocional, afetos desagradáveis e ausência de acolhimento para essas dores pode levar a um desfecho desfavorável, o que pode ajudar a explicar o aumento dos casos de suicídio durante a pandemia.

 

Diante disso, o Setembro Amarelo deste ano de 2020, aumenta ainda mais a sua relevância, colaborando para alertar as pessoas sobre a realidade do suicídio. A campanha tem o mérito de se propor a ensinar pessoas leigas a identificar situações de risco e o que efetivamente fazer. Escutar com respeito e empatia, encaminhar ao serviço telefônico prestado pelos voluntários do CVV (Centro de Valorização da Vida) ou encaminhar ao serviço de saúde mental CAPS é o caminho correto para prevenir a ocorrência do suicídio. O próprio site da campanha indica sinais aos quais devemos estar atentos: isolamento voluntário, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades de que gostava, descuido com aparência, piora no desempenho escolar ou no trabalho, alterações no sono ou no apetite, frases como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer” podem identificar necessidade de ajuda.