Artigo: “Da inquietação humana”, por Marco Cassel

Todos os humanos parecem carregar uma inquietação dentro de si. Algo que ora nos move, ora nos perturba, impulsiona ou angustia, mas que invariavelmente carregamos dentro de nós como uma marca indelével. O que seria essa perturbação? Por que a carregamos conosco? De onde surgiu?

 

Talvez essa inquietação seja causada pelo fato de sabermos da finitude de nossa vida, de que o tempo que temos para realizar nossos desejos não é eterno. E na medida em que o mundo pós-moderno amplia o nosso leque de desejos, nosso tempo parece estar ficando escasso.

 

Nossos desejos parecem estar maiores do que nosso tempo de vida. Temos a impressão, muitas vezes, de que queremos algo, mas não sabemos o que é. Vivemos num eterno estado de incompletude.

 

O ser humano vislumbra o infinito dentro de sua finitude e isso o atormenta. Vive um paradoxo e por isso a angústia o aflige. Mas a vida não se extingue, perpetua-se em cada novo ser que surge, em cada novo humano que vem ao planeta e dessa forma podemos levar adiante nossos projetos, infinitamente. Quando nosso olhar ultrapassa a distância entre nossos olhos e nosso umbigo, percebemos a continuidade da vida num eterno ciclo de renovação.

Essa perturbação constante e essa sensação de incompletude que sentimos pode ser direcionada para onde quisermos. Podemos direcioná-la para realizar nossos desejos mais egoístas, olhando apenas para aquilo que nos sacia, mas geralmente somos insaciáveis, porque queremos sempre mais, desejamos o ilimitado. Então que nossa inquietação e avidez sejam virtuosas, éticas e que sirvam não só aos nossos interesses, mas vislumbrem o bem de muitos. Que nossas ações, motivadas por nosso desejo de infinito, sejam voltadas para o bem do maior número de pessoas, então poderemos dizer que nossa angústia e perturbação são úteis e seremos uma luz, um guia para as futuras gerações.