Jovem de Três Coroas integra equipe principal do Internacional e fala da sua trajetória do Sandense até o clube de Porto Alegre

Foto: Ricardo Duarte

Por Weslei Fillmann

“Não há palavras que resumem essa bagagem pelo Inter”

 

Anthoni Spier Souza, nascido em Canela-RS em 23 de janeiro de 2002 e morador de Três Coroas desde seus primeiros dias de vida. Começou a dar os seus primeiros passos e defesas na carreira de goleiro de futebol na equipe do Sandense, na cidade do Vale do Paranhana, aos oito anos, quando passou por um período de avaliação no clube.

Com o passar dos treinamentos, ingressou no sub-10 do Internacional, quando foi chamado pois precisavam de um goleiro para a base colorada. Isso ocorreu em 2010 e, desde então, não deixou mais o clube, entrando para o elenco principal do Inter na última temporada.

Fez parte do grupo que conquistou a tríplice coroa em 2021, com as taças do Brasileirão, da Supercopa do Brasil e do Gaúchão, todos na categoria sub-20, levando o clube a uma participação histórica na Libertadores sub-20 de 2022.

Desde o começo, teve o apoio e orientação do treinador do Sandense, Jair Luiz Scherer, e também da família, que sempre esteve ao seu lado em suas escolhas. Jair “Stets”, como é conhecido, relembra que o Anthoni esteve jogando pelo clube de Três Coroas e o Inter até os 13 anos, quando teve de ficar em definitivo no Colorado.

Durante o início da pandemia, o goleiro ficou treinando no campo do Sandense para manter a forma, sendo orientado pelo preparador de goleiros Leonardo Casagrande.

 

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Qual foi o sentimento de conquistar essas três taças (Gauchão, Supercopa do Brasil e Brasileirão) em 2021?

Eu venho desde os oito anos no Inter e ao longo desse ano (2022) eu completo 12 anos de clube. Nesse tempo eu não tinha conquistado nenhum campeonato nacional. Já tinha disputado todos e ganhado os Gauchões, mas nunca um nacional. E aí disputamos a Copa do Brasil, onde caímos na semifinal. Fomos muito bem e muito longe na competição. Jogamos o Brasileiro como uma equipe desacreditada. Eu joguei uns 15 jogos entre o revezamento com os demais goleiros da categoria (sub-20) e a reta da final da fase de grupos fui eu. Foi uma coisa louca, por que ninguém dava nada por nós. Ninguém esperava que a gente fosse ser campeão. Internamente a gente sabia que era difícil passar para a próxima fase, mas sabíamos da capacidade do nosso grupo. Nós tiramos uma força interna muito grande entre nós. Nossa união foi o que prevaleceu. Naquela arrancada (de vitórias), começamos e não paramos mais. Fomos campeões do Brasileiro, o que deu a vaga para a Supercopa, que é o confronto entre o campeão do Brasileirão e o campeão da Copa do Brasil da categoria. Jogamos contra o Coritiba dia 19 de dezembro e nos consagramos campeões novamente, ganhando de 1 a 0. No Gauchão eu tive poucas participações, pois a sequência de jogos era muito grande, e era preciso fazer uma rodagem também. É todo feito um planejamento, por toda a comissão da sub-20 e profissional. Como os jogos eram de dois em dois dias, nós íamos revezando os jogos. Por isso, eu acabei não atuando no gaúcho, em função dessa rodagem. Mas contei como inscrito, peguei a medalha com todos.

 

E para a Copa Libertadores sub-20, que o Inter se classificou, como você projeta a sua participação?

Primeiro que é uma vaga inédita. Creio que o Inter nunca tenha ido para uma Libertadores sub-20. Vão ser 15 dias no Equador. O meu foco principal hoje é o profissional, para onde o meu trabalho é todo voltado. O planejamento é feito pelo Inter. Tem bons goleiros na sub-20, meus colegas. Inclusive o Lucas Flores e o João Vitor, que estão atuando na Copinha (o clube foi eliminado pelo Palmeiras na última segunda-feira (17)). São todos excelentes goleiros. Como o clube instituiu a minha presença no profissional, é para onde o meu trabalho está voltado. A gente acaba, por ventura e por ser pré-temporada, não pensando muito na Libertadores. Claro, fiquei muito feliz por participar de uma campanha dessas e conseguir uma vaga inédita dessas é muito gratificante. Tenho certeza que o sub-20 vai representar muito bem o time e todas as conquistas que tivemos no último ano.

 

Você nasceu em Canela e se mudou bem cedo para Três Coroas, onde acabou crescendo. Como o Inter descobriu você, atuando como goleiro?

Em 2009 eu comecei no Sandense (Três Coroas) e já tinha um amigo meu que já participava de uma pré-seleção no Inter. Eles montavam uma sub-9 para subir no ano seguinte para a base, na sub-10. Nessa pré-seleção eu tinha esse amigo, que treinava todos os sábados. Aí eu comecei a treinar no Sandense. O pai desse amigo me perguntou se eu conhecia algum goleiro, aí eu fui lá e passei por um período de avaliações, para ver se eu ia gostar ou não. Não havia nenhum compromisso ou responsabilidade, era mais uns treinos para chegar na base. Aí esse amigo me convidou e como minha família não viu problema algum, a gente foi, mas não imaginávamos que ia chegar nessa proporção. Aí comecei a fazer parte da sub-9, por dois anos, pois tinha 8 quando entrei. Aí o treinador me falou que estavam precisando de um goleiro no sub-10 para fazer parte da base e aí eu entrei. Até brinco que nesses 12 anos, a caminhada foi longa, sabe? Como eu sou muito cristão, acredito em Deus, certamente em algum momento foi Deus que deu um empurrão, sabe? 12 anos não é fácil, pois é uma vida.

 

Como foi a reação da família ao saber que você estaria na base da equipe do Inter?

Minha família sempre me apoiou muito. Independente do time que eu estivesse. Quando apareceu a situação do Inter, ninguém tinha a ideia da proporção que isso poderia tomar. Mas no decorrer do ano (2010) a gente foi vendo que era o que eu queria, que era o que eu amava fazer, que eu estava em um clube extraordinário e excepcional que é o Inter. Meus pais sempre deixaram bem claro nesses 12 anos que sempre o que eu queria fazer, eles iriam me apoiar até o final, dando certo ou não dando. Se em algum momento eu falasse “pai, não quero mais jogar bola, isso tá me desgastando, me cansando muito”, tudo bem, a gente tentou. Eles sempre me deram todo o apoio. Minha mãe é fanática colorada, minha irmã mais nova também. São todas apaixonadas pelo Inter. Tenho muitos amigos colorados também, até por ser gaúcho. Não há palavras que resumem essa bagagem pelo Inter. Foi tudo muito vivido. Pela paixão que eu tenho pelo Inter, pelo que o clube me proporcionou. Tanto pessoal quanto jogador. Eu aprendi e aprendo muito também.

 

Você mantém contato com as pessoas que te ajudaram na entrada do futebol profissional, ali no Sandense?

Claro, com certeza. Eu converso bastante com o treinador e organizador, o Stets Scherer. O amigo que me deu a possibilidade de estar no Inter eu levo até hoje. Todo esse tempo, de 12 anos na luta, é uma soma dos trabalhos. Claro, se não fosse a minha vontade de trabalhar e querer ela bem-feita, talvez não estaríamos aqui conversando hoje. Mas, estar aqui hoje, a minha imagem é a representação de muita gente que foi montando uma engrenagem. Eu não vou conseguir lembrar de todo mundo, mas desde os cinco anos muita gente passou por mim. Gente que, de alguma maneira, me trouxeram coisas positivas. Então sim, eu mantenho esse contato com o Stets e outros que estão no Inter ou já foram para outros clubes. Isso é algo que o futebol traz muito, que são as amizades.

 

Você sabe se é utilizado como exemplo para os outros meninos que estão treinando como goleiros na equipe do Sandense, de Três Coroas?

O Stets sempre comenta que sim. De vez em quando, ele liga por vídeo para dar um “oi” para a gurizada. Agora tem sido mais corrido, mas sempre que tenho possibilidade nas minhas férias eu passo lá para dar uma olhada como está a gurizada. Durante a quarentena, quando fiquei um tempo parado, meu local de treinamento dentro de todas as restrições era no Sandense. Sempre tinha um outro menino por perto querendo ver, querendo olhar. Quando eu estou pela cidade (Três Coroas) sempre tem alguém que me para pra falar comigo na rua, me cumprimenta. Isso são as sensações que o futebol traz que são inexplicáveis. Alguém te colocar em um altar como referência que, quando se ter 8 anos, tu jamais pensaria que chegaria.

 

O que o Taison e o D’Alessandro representam para você, como pessoas e como jogadores do Internacional?

São inspirações. Não só pra mim, mas para milhares de crianças e até adultos. São colorados e amam o futebol. Dois caras que eu cresci vendo jogar. O próprio D’Alessandro se tornando ídolo do clube assim como o Taison, com sua passagem pela Europa, são jogadores e pessoas excepcionais. Estar treinando com eles, é algo inimaginável para aquele menino de 8 anos, de quando tudo começou. É um passo de um sonho realizado que ainda continua.