903 quilômetros em 5 dias: trio viaja de bike de Igrejinha a Punta Del Este

F

Por Lidiani Lehnen
Igrejinha

Não há limites para quem gosta de esportes e aventura, e o objetivo é sempre a superação. Por isso, percorrer 903 quilômetros de bicicleta em cinco dias, atravessando a fronteira entre dois países, é desafio para ser encarado e batido. Depois de irem para Blumenau-SC em setembro deste ano, o fisioterapeuta Egon Dörr Neto e o empresário Tomás da Silva Boeira, ambos de 26 anos, ganharam a parceria da oficial de justiça e atleta Letícia Rodrigues, 31 anos, para uma nova aventura, ir de Igrejinha a Punta del Este, no Uruguai.

A partida aconteceu bem cedinho, no dia 25 de dezembro e, no dia 29, o trio chegava ao seu destino. Eram em média 180 quilômetros diários, saindo de madrugada, antes do sol nascer, passando de 10 à 15 horas em cima da bike. Era necessário manter um ritmo constante para não ‘quebrar’ fisicamente, encarar as altas temperaturas do verão e ainda vencer o cansaço físico e psicológico, tentando manter o bom humor. Como a estrutura era enxuta e tudo precisava ser levado por eles, algumas vezes a água que consumiam era quente, pois esquentava no meio do trajeto, devido ao calor, o que naturalmente ajuda a desgastar ainda mais o corpo ao longo do dia.

No caminho, passaram pela Reserva do Taim e escolheram o máximo de estradas planas possível. Eram somente os três, suas bikes e a estrada. “Fizemos o trajeto apenas com as bagagens nas bikes, todos os componentes para eventuais reparos mecânicos, alimentação e itens para dormir levamos conosco. No dia 29, os pais do Tomás estavam em Punta del Este, nos esperando”, lembra Egon. O retorno pra casa foi bem mais tranquilo. “Longas horas dentro da Kombi, pensando sobre a vida e o quão simples ela pode ser se buscarmos uma forma equilibrada de se viver”, conta Tomás. Eles ficaram no Uruguai e acompanharam a chegada de 2020 na cidade de Colônia de Sacramento, retornando no dia 1º.

Para março, o objetivo é fazer uma trip mais acessível, para reunir mais amigos e simpatizantes na aventura. O grande desafio, para coroar o ano, será ir até o Chile, passando pelo Paraguai e pela Argentina.

A recompensa

Vencer os seus próprios limites, conhecer lugares novos, desbravar o mundo. Por si só, isso já justificaria fazer uma viagem como essa! Mas certamente a bagagem dos três voltou carregada de lembranças e aprendizados que ficam para a vida. Tomás destaca que é nas maiores dificuldades que se percebe o quão forte se pode ser e que a parceria foi ótima. “Teve o algo a mais que era estar com duas pessoas especiais, amizades que irei lembrar pro resto da vida”, declara o empresário. “As viagens tem um poder de te levar ao limite físico e mental e, ao mesmo tempo, explorar todos os teus sentidos. Para mim é como se eu nunca conseguisse parar de pedalar! A energia que transpiramos é algo inesquecível”, complementa Egon. Letícia considera a sua bike, a qual chama de Mortícia, sua companheira de fé. “Ela me guia em intermináveis dias de superação e agitação! A Mortícia mostrou o quanto é possível encarar um destino insano como se fosse algo fácil. Mostrou que embora haja dor, há também sintonia e muita gratificação pessoal. Com ela sigo construindo o impossível!”.

Vale destacar que alcançar algo assim não acontece da noite para o dia, mas é algo que qualquer pessoa, com preparação e dedicação, pode conseguir. “O impossível que a sociedade acha que é viajar tão longe de bicicleta, é algo tão simples quando se coloca um objetivo e uma meta de chegar no destino. Claro que, nunca esquecendo que tudo deve ter uma dedicação e longas horas de treinos físicos e psicológicos”, pontua Tomás.

Bike é estilo de vida e amor

Para Egon e Tomás, a relação com as bikes começou na adolescência. Tomás tem diabetes tipo 1 desde os 9 anos de idade.  Aos 14 anos, começou a correr e logo comprou uma bike, encontrando através da prática de esportes o melhor controle glicêmico para o diabetes. Em 2013, participou de provas de aventura de 50 a 100km de distância no Acampamento Base do Everest. Para praticar e promover o esporte, tornou-se membro da ASSICI (Associação Igrejinhense de Ciclismo), da qual já foi presidente. Amigos desde essa época, os dois já haviam feito algumas viagens menores. Após concluir a faculdade, Egon voltou a pedalar de forma leve e eventual. “Em julho, topei o desafio de fazer uma trip com o Tomás até o Corvo Branco-SC. Fomos. Vencemos.  Então senti na pele o prazer de viajar de bike. Em agosto comprei uma bike nova e em setembro fomos a Blumenau”, relembra.

Já Letícia iniciou sua história há pouco mais de três meses quando, influenciada por pessoas de seu convívio, comprou uma bike. “E como não poderia ser diferente das outras aventuras que já venho realizando, resolvi não só aprender a andar de bike, mas me superar na cia dela. Foi pouco mais de um mês de treinos intensos e muita dedicação para poder encarar estes mais de 900km de desafios físicos e psicológicos”, conta ela.

Tomás considera que a prática de exercícios é essencial e quer mostrar isso para as pessoas.  “Meu objetivo de vida é incentivar as pessoas a prática de exercícios e provar que o diabetes não impede e não atrapalha em nada na minha vida, apenas me fez ser quem eu sou hoje: atleta de Corridas de Aventura em nível Nacional, praticante de corridas de Trail, rústicas e moutain bike. Acredito que, quando enjoar de competir, vou viver minha vida viajando e conhecendo o mundo em cima de uma bicicleta onde realmente buscamos a essência dos locais por onde passamos e somos recebidos da melhor forma do mundo”, conta.