Faltam EPIs e profissionais para volta às aulas na rede estadual da região

Portões fechados na 27 de Maio sintetizam situação de escolas estaduais da região. Fotos: Matheus de Oliveira

Região – Portões fechados e salas vazias. Essa segue sendo a realidade das escolas da rede pública estadual do Vale do Paranhana, que não têm aulas presenciais há mais de sete meses. Pelo calendário do governo do Estado, os ensinos médio e técnico tiveram permissão de retornar no dia 20 de outubro, e os anos finais do ensino fundamental nesta quarta-feira (28), mas faltam itens de limpeza, EPIs e profissionais para cumprimento dos protocolos exigidos para a retomada.

“Não temos todos os EPIs. Recebemos termômetros e parte das máscaras. Compramos tapete sanitizante e dispenser para álcool gel, mas aguardamos o restante dos materiais”, informou Remi Luciano Brocker, diretor da EEEM Engenheiro, de Parobé, no início da semana. O impasse também está na baixa adesão de alunos à ideia de retomada. Dos cerca de 400 alunos do ensino médio da instituição, 8% manifestaram intenção de retornar, tendo em vista que a volta não é obrigatória e depende do consentimento dos pais. A situação é semelhante em outras oito escolas da região procuradas pela reportagem.

Na EEEF 27 de Maio, em Taquara, são atendidos os anos iniciais do ensino fundamental, que podem retornar em 12 de novembro, mas já há preocupações. “Por enquanto recebemos os termômetros. Não sabemos se nos dois turnos os profissionais vão dar conta da limpeza”, frisa a diretora Maria Ressani.

De acordo com a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), estão autorizadas a abrir os portões apenas escolas que tenham todos os EPIs, itens de limpeza e planos de contingência elaborados. Também é preciso estar em região com bandeira amarela ou laranja.

Entrevista com Simone Goldschimidt, diretora regional do Cpers Sindicato

Jornal Repercussão – Como o sindicato vê a questão da volta às aulas na rede pública da região?
Simone – “Os equipamentos de proteção individual não chegaram nas escolas. Inclusive, conseguimos uma liminar que determina que só fica autorizado o retorno das aulas se algúem do COE (Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação) regional ou municipal, algum especialista em saúde, fizer a vistoria da escola e der ok. Isso não aconteceu em nenhum município do estado ainda. Tem a questão do armazenamento também. Por exemplo, as escolas vão receber vários litros de álcool e nenhuma tem condição de armazenar de forma segura todo esse material inflamável. Então nós continuamos com a nossa campanha de ‘Escolas fechadas, vidas preservadas’. Vemos exemplos de escolas que retornaram e já tem muitos casos de contaminação. Uma das orientações é de que se o aluno estiver com sintomas gripais, deve procurar os professores. Mas eles não são formados em medicina. É curioso observar que todas as discussões sobre retorno das aulas presenciais entre as CREs aconteceram de forma online. Isso é muito sério. Então mantemos posição de que ainda não é seguro, não é o momento de retorno.”

Jornal Repercussão – Os protocolos estabelecidos pelo Estado não oferecem segurança necessária para os professores?
 Simone – “Os protocolos estabelecidos não têm segurança e não vão ser cumpridos. As escolas não têm o número suficiente de profissionais. É inviável ter um ou dois funcionários para desinfectar todas as salas três vezes ao dia. Tem escolas que inclusive tem dificuldade no acesso à água. São uma série de situações que dificultam muito a volta. Inclusive, em Porto Alegre, a Seduc estava como um carro da Secretaria da Educação passando pelas escolas perguntando o que haviam recebido. Está uma desorganização”

Jornal Repercussão – Entendem que as aulas presenciais devem retornar em qual momento?
Simone – “Quando tiver segurança e vacina as aulas podem retornar. Com retorno das escolas infantis os casos já estão aumentando no Estado conforme tenho visto através dos veículos de imprensa.”

Jornal Repercussão – Professores vão ter trabalho dobrado para atender alguns alunos de forma presencial e outros à distância. Essa reclamação tem chegado até vocês?
Simone – “Sim. Isso está em nossa pauta. É um ponto que a gente cobra dos governos. Ninguém explicou até agora em qual horário que os professores estarão realizando atividades remotas. Eles ficam três horas na escola. E a hora atividade vai estar sendo contada? Um terço da carga horária seria para isso. Onde está essa hora? E tem mais um detalhe muito interessante. Os pais não estão autorizando seus filhos a retornar. Eles têm a consciência e a clareza de que a pandemia ainda não acabou. Por mais que algumas pessoas de grupos negacionistas digam isso, ela não acabou.”

Baixa adesão dos alunos
No IEE Olívia Lahm Hirt, de Igrejinha, a diretora Isabel Dier diz que até o início da semana cerca de 100 pais tinham autorizado o retorno presencial dos filhos à escola. A instituição conta com cerca de 760 alunos em todos os níveis. Na EEEM Berthalina Kirsch, a diretora Dirlei Fernandes da Silva relata que dos mais de 300 estudantes do ensino médio, cerca de 30 apresentaram autorização para voltar à sala de aula. “Estamos em regime de plantão aguardando a chegada do restante dos materiais”, observa. Outra dificuldade pontuada por Dirlei é sobre a ida até a escola. “Alguns não podem vir porque não se sabe se terá transporte.”

Estado não apresenta prazo de entrega ou plano de ação para resolver situação de atraso. Orientação é esperar os materiais

A Seduc ressalta que os EPIs e materiais de higienização que serão utilizados por alunos e professores ao longo das aulas presenciais foram adquiridos pelo Estado em um investimento de R$15,3 milhões e estão em processo de entrega ao longo dos meses de outubro e novembro. Em relação ao atraso na entrega, a orientação da secretaria é de que as escolas que não tiverem recebido os equipamentos permaneçam no modelo de ensino remoto até a regularização da situação.

O governo defende que a retomada do ensino presencial é fundamental, afirmando que “O acesso à educação é considerado essencial e está previsto na Constituição Federal.” Em nota, a Seduc enfatiza que os pontos determinantes para o retorno das aulas presenciais são: “A importância da interação entre aluno e professor; a garantia de atendimento no processo de ensino e aprendizagem; e a realidade de que nem todas as cidades do Interior contam com abrangência de sinal de internet das operadoras de telefonia.”