Caso da Americanas gera incertezas e sindicatos cogitam demissões na região

Em Igrejinha, unidade da companhia fica na rua Ernesto Dorneles, no Centro | Foto: Matheus de Oliveira

Região – O escândalo bilionário da Americanas tem movimentado o noticiário econômico e causado uma série de incertezas pelo Brasil. A empresa é uma das maiores varejistas do país e gera cerca de 44 mil empregos diretos. Com presença na maioria das cidades da região, a marca ainda não divulgou informações em relação ao futuro das lojas e dos funcionários.

A tesoureira do Sindicato dos Empregados do Comércio de Taquara (Sindicom), Katiana Vargas, explica que na última semana participou de uma reunião virtual com representantes da Americanas e sindicatos de diversos estados. “Até então não houve nenhum pagamento atrasado e não aconteceram demissões na região, mas eles não deram nenhuma segurança sobre não ocorrer demissões em massa”, observa. O sindicato abrange ainda Parobé, Igrejinha e Três Coroas. Nas cidades mencionadas, são 24 empregos gerados pela varejista.

A reportagem buscou contato com gerentes das filiais da região, mas não obteve nenhum retorno.

Confederações agem na Justiça
O presidente do Sindicom de Sapiranga, Paulo Roberto Pureza, conta que a loja da cidade conta com nove funcionários, e a situação é semelhante à de Taquara. “Nos passaram um comunicado falando sobre a lei que prevê pagamento normal dos salários durante o processo de recuperação. No entanto, eles dizem que vão focar as operações em pontos estratégicos e que podem acontecer reestruturações. Por isso, entendemos que demissões não estão descartadas. Vai ser algo que vão decidir a nível nacional e somente será repassado para as lojas”, avalia.

Na última semana, centrais e confederações sindicais ajuizaram uma ação civil pública pedindo que a Justiça bloqueie R$ 1,53 bilhão da conta pessoal dos acionistas de referência da Americanas, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, como forma de garantir que as ações trabalhistas sejam pagas.

O caso recente da Ricardo Eletro, que entrou em recuperação, fechou todas as lojas, demitiu mais de 70% dos empregados e ainda é cobrada na Justiça por direitos trabalhistas, é citado como um exemplo preocupante do que pode acontecer na crise da Americanas.

Rombo de R$ 20 bi
No dia 11 de janeiro, a Americanas divulgou que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões. Após isso, a empresa viu o derretimento de suas ações na Bolsa de Valores, com papéis cotados a R$ 1,94, patamar bem abaixo dos R$ 12, nível visto antes dos escândalos contábeis. No dia 19 de janeiro, em comunicado, a empresa anunciou que havia somente R$ 800 milhões em caixa, uma redução significativa contra os R$ 8,6 bilhões reportados no 3º trimestre de 2022. Ao longo do dia, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial, que se tornará o quarto maior da história do país, ficando atrás somente de Odebrecht, Oi e Samarco.

Fique por dentro
Recuperação judicial é o processo por meio do qual uma empresa em crise busca renegociar dívidas e pagamentos junto a credores, colaboradores e fornecedores. O principal objetivo é a manutenção das atividades, evitando a falência. Agora, com a ação aceita, a Americanas tem até 60 dias para apresentar um plano, que envolve o pagamento das dívidas ou até a fusão com outra empresa.