Escritor Doralino Souza divulga ‘A hora do microconto’, sua nova obra literária

Região – O escritor Igrejinhese, Doralino Souza prepara lançamento de sua nova obra nessa quinta-feira, dia 27, em Igrejinha/RS. O livro intitulado “Enquanto espero o troco do café” é a incursão do autor na chamada microliteratura, que consiste em minicontos, microcontos e nanocontos. Ou seja, trata-se de histórias contados em exatas 30, 50, 100 ou 150 palavras. De acordo como autor, nesse livro os leitores encontrarão 70 microcontos que passeiam pelas mais diversas situações. “Histórias aparentemente curtas, mas carregadas de significados, de narratividade, de olhar sobre a condição humana, pois minha matéria prima é a vida real, com tudo o que ela apresenta de ridículo, patético, grandioso, maravilhoso”, relata.

 

Ainda falando sobre esse estilo literário, Doralino diz que apesar de ser uma narrativa breve, o texto não deixa de ser um conto, e por isso precisa apresentar todas as características de um conto, como narratividade, subtexto e um final, de preferência, impactante, caso contrário, corre o risco de virar apenas uma citação, ou sinopse ou mesmo um poema. “É um desafio autoimposto pelos escritores, criar um enredo que apresente o máximo de narratividade e efeito com o mínimo de palavras. É como disse Júlio Cortázar, se o romance vence por pontos, o conto vence por nocaute. Então, eu me esforcei para, nesse livro, dar 70 pequenos nocautes no leitor”, divaga.

 

O autor defende que o microconto veio para ficar. “Ele é próprio dos nossos dias. É uma literatura que dialoga com as redes sociais e com a agilidade contemporânea. Um microconto pode ser publicado no Instagram, tuiter ou facebook sem nenhum prejuízo. Da mesma forma, por ser breve, pode ser lido nas redes, virar vídeo, podcast etc. “Também acredito no seu potencial junto às escolas. Se os alunos normalmente reclamam para ler, por falta de tempo ou algo assim, com os microcontos não terão esse problema. Dá pra ler vários microcontos num período de aula e ainda debater sobre o que foi lido”, avalia.

O livro é a quarta publicação de Doralino, que já foi duas vezes finalista ao Prêmio AGES Livro do Ano. O lançamento ocorre à partir das 19h30min no Sobrinhos Rock Bar, Rua Independência, 639 – Centro – Igrejinha /RS. Com sessão de autógrafos.

O autor

Doralino Souza nasceu em São Francisco de Paula/RS, em novembro de 1969. Publicou os livros Dentes no copo de uísque & outros contos de crime (2019, Editora JM2D), O Cânion de dentro (2016, editora JM2D) finalista ao Prêmio AGES Livro do ano na categoria Infanto-juvenil e Anjos também usam boné (2014, Editora JM2D) Finalista ao Prêmio AGES Livro do ano na categoria contos. Foi vencedor do I Premio Internacional de Microcontos. Possui diversas publicações em antologias, incluindo o Premio Off Flip 2022 (de Paraty), contribui com jornais e revistas impressos e digitais. Idealizador e editor da Revista Paranhana Literário e Repórter da Radioweb Arteviva. É jornalista, educador social e ativista cultural.

Serviço:

Enquanto espero o troco do café

Editora Bestiário

88 páginas

12X18 CM

ISBN 978-65-85039-51-2

R$ 35,00

Para adquirir:

No local de lançamento

Após no site da editora www.bestiario.com.br

Com o autor

Em livrarias da região

Degustação:

O MONSTRO

Às vezes, quando mamãe sai pro trabalho, o monstro vem. Fico quietinha pra ver se ele vai embora. Que nada. Continua ali, daquele jeito. A respiração. Os cheiros. Sussurra meu nome, pega meus cabelos, começa fazer coisas. E dói. Eu queria ter a coragem da mamãe. Ela dorme a noite toda com o monstro.

A INICIAÇÃO

Ou faço isso, ou serei chamado de maricas pela turma. Lourenço e Betão me olham. Mantenho o porrete erguido e na posição. Os dois seguram firme o saco de linho enquanto a criatura, lá dentro, se remexe querendo escapar. Tudo bem, só dez pauladas, penso comigo. Acerto a primeira com toda força.

CORRENTE NO ESCRITÓRIO

Fabiana abraçou Camila, que deu três beijos em Carlos, que cumprimentou Artur, que sussurrou no ouvido de Neusa, que confidenciou para Lurdes, que dividiu um cigarro com Andreia, que beijou na boca de Emerson, que fez amor com Joaquim, que não era do escritório e tinha consulta médica agendada para a manhã seguinte. Foi entubado dias depois.

PARA TI, MEU AMOR, UM DRINK

Evandra fitou o homem ao seu lado, deitado, de bruços, sobre a toalha de praia. “Eu avisei, essa bermuda é muito larga.”, murmurou. O sol parecia cansado e a areia não refletia calor. Evandra estava impressionada com a rapidez do efeito. “Foi beber e apagar, quem diria.” Ela esperou algum tempo, olhando pro mar, em seguida, se levantou, jogou fora o resto da bebida, que trazia na coqueteleira, depois, fazendo cara de assustada, gesticulou pedindo ajuda ao salva-vidas.